No capítulo 14, percebemos que Ricardo abriu-se com Raul, na tentativa de saber alguma coisa sobre o crime que o acusavam. Raul comentara sobre o grupo de jovens que costumava fazer luais à beira do rio, nos quais havia envolvimento de drogas e sexo. Entre eles, estava Taís, a jovem que sentia-se atraída por Ricardo a ponto de assediá-lo e para seu azar, sendo assassinada. Quem seria o culpado ou os culpados por tal crime? O grupo de jovens, dos quais fazia parte Carlos, o filho do prefeito que organizava as festas? Ou os quatro jovens juntos, numa noite de loucura regada à bebida e drogas? Ou seria mesmo o médico, que lutava para ficar ileso? Também havia o antigo namorado da moça, o mecânico Paulo que tinha muito ciúme por ela. E Rosa, que papel teria nesta trama toda? A seguir o 15º capítulo de nosso folhetim policial.Divirtam-se.
Capítulo 16
Júlio sentou-se na poltrona e observou que as paredes de certo modo revelavam uma falência inevitável no sistema carcereiro da cidade. Era como se ali houvesse o registro do abandono pelo Estado pelo sistema policial: no próprio prédio, havia pichações de todo o tipo, além de profundas deteriorações nas paredes internas, com o surgimento dos tijolos sob o reboco frágil. Na poltrona, cortes de canivete, nos quais inevitavelmente afundava os dedos.
Estava assim pensativo, quando o Delegado Borba surgiu, fechando com firmeza a porta. Júlio voltou-se com o olhar perplexo. O outro sorriu e comentou, irônico:
— Detetive Júlio, para um homem da lei está se portando como um medroso. Não devia se assustar assim com a minha chegada.
Júlio levantou-se e apertou-lhe a mão, confiante.
— Não estou assustado, delegado. Só estava aqui, mergulhado nos meus pensamentos.
O delegado discursava, enquanto ajustava a cadeira para sentar-se atrás da escrivaninha.
— Quem pensa muito não age. O contrário da polícia, que não tem tempo de pensar.
Júlio sorriu e completou:
— Trilhamos caminhos diferentes delegado Borba, mas temos os mesmos objetivos.
O delegado não respondeu. Acionou o mouse, revelando a página da web em que estava navegando, sem levantar os olhos, embora parecesse atento às palavras do detetive. Este, prosseguia, enfático:
— Ainda bem que somos assim, obstinados no caminho da lei, não é mesmo?
O delegado ficou-o por alguns segundos, mostrando dúvida.
— Não sei não, meu amigo. Nossos métodos são oficiais, a gente não brinca de mocinho e bandido – fez uma pausa e prosseguiu, deixando o mouse – mas parece que voltou aqui para trabalhar.
— Podemos dizer que sim, mas não totalmente. Eu já tinha interesse em voltar, pelo menos, passar um tempo aqui, na minha terra natal.
— Então, o que o traz aqui?
— Quero uma ajuda da polícia.
— Uma ajuda, detetive? O senhor já não é pago para o seu trabalho? Se nós o ajudarmos, como é que fica? Quem vai nos pagar?
— Como lhe disse, delegado, andamos por caminhos paralelos. Sei que a polícia pode fazer oficialmente, o que eu na minha modesta atividade, não posso.
— Podemos esclarecer os crimes.
— Não quero entrar nesta seara, delegado. No que concerne a profissões, cada um sabe da sua. Eu precisava que o senhor me fornecesse alguns dados, ou melhor, que fizesse uns interrogatórios.
O delegado Borba ficou observando-o, como se refletisse no que dizia. Não suportava a ideia de dividir o serviço da polícia com um detetive particular, principalmente porque atrapalharia ainda mais as investigações.
— O senhor acha que pode me pedir isso, detetive Júlio?
— Oficialmente, não. Mas em nome de nossa amizade, delegado.
Borba sorriu levemente. Em seguida, levantou-se e foi até a porta, verificando se estava bem fechada. Depois, dirigiu-se à janela e ficou algum tempo olhando para a rua. Júlio coçou a cabeça, inseguro. Sabia que o delegado era osso duro de roer, mas devia insistir, por isso acrescentou:
— Sei que é um homem muito ocupado, mas nestes últimos casos que estão acontecendo na cidade... – o delegado o interrompeu, friamente, ainda em pé, próximo à janela – o que está vendo por aqui, detetive?
Júlio perguntou, indeciso :
— Como assim? V
oltando a sentar-se, Borba retoma a pergunta:
— vou lhe perguntar novamente, o que o senhor observa aqui, nesta delegacia?
Júlio olhou para as paredes descascadas, as infiltrações e os rasgos na poltrona. Nada respondeu. Borba, então concluiu:
— Percebi que estava muito atento ao estado deprimente desta delegacia. É a isto mesmo a que me refiro, detetive. O senhor reparou nas portas com maçanetas desengonçadas, nas paredes sem pinturas, aparecendo o reboco. O senhor observou tudo isso e vem me pedir ajuda? Por acaso pensa que além deste cenário maravilhoso, o senhor vai encontrar um contingente ideal para auxiliá-lo nas suas investigações? Onde o senhor vive, detetive? Na Suécia?
— Por favor, delegado, claro que eu sei de tudo isso. Agora mesmo, quando o senhor chegou eu estava refletindo exatamente sobre o estado do prédio, mas o que eu preciso de uma pequena ajuda, nada que vá ocupar o seus homens por muito tempo.
— Os meus homens, detetive? Sabe com quantos homens disponho? Dois policiais e um escrivão, que agora, neste momento, está conversando na internet com a namorada, ou seja lá com que raio de gente ele conversa, mas acabei de ver quando fechei a porta.
— Não sei o que dizer, delegado.
— Pois não diga nada, meu amigo. Fique certo de uma coisa: eu não vou fazer o meu trabalho duas vezes só para ajudá-lo. Acho que deve usar as suas próprias armas.
— O senhor é um homem beligerante.
— E o senhor é assim tão pacífico?
— Eu só queria que tivesse uma conversa informal com os suspeitos, tenho alguns.
— A que crimes o senhor se refere?
— Acredito que tenham alguma relação, os crimes dos turistas assassinados e o da jovem Taís.
—O processo relativo aos turistas foi arquivado. Não posso reabrir o inquérito policial, se não há nenhuma novidade.
— A menos que tenha alguma relação.
— Por que diz isso?
— Tenho as minhas ferramentas, delegado. Mas acho, que deveria fazer um interrogatório com Rosa, a maestrina, com o mecânico Paulo, com Ana, adolescente que diz que ouviu o grito da moça, quando caíra no rio e dos garotos do grupo dela.
— Garotos?
— Especialmente Carlos, o filho do prefeito. Tenho certeza de ser for investigado, muita coisa pode sair daí.
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