Para ir à escola, eu devia pegar três ruas, a Av. Pelotas, a João Manoel e seu seguimento, a Dr. Nascimento. No meio de tudo isso, ficava a Praça Saraiva, que era parte de minha rotina, a qual fazia questão de atravessar. Nela, os sentimentos sempre despertavam de algum modo, geralmente sensações conhecidas das manhãs outonais ou das longas tardes de inverno. Na verdade, gostava daquela sensação de frescor, mesmo em manhãs frias, dos assobios incessantes dos bem-te-vis, que se misturavam nas folhas dos imensos eucaliptos e de outros pássaros, dos quais desconhecia o nome, do sereno que ainda restava na grama, até às 7 e meia, mais ou menos, os caminhos de areia e saibro vermelho. Era um mundo especial, o meu mundo matutino na ida à escola.
O São Francisco ficava logo ali, indo pela Nascimento, mas me parecia tão longe! Antes, devia ir pela João Manoel até o canalete. Lembro das calçadas irregulares, do silêncio da rua que parecia não morar ninguém, do sol que despontava meio longe, através das árvores ralas que contornavam os canteiros. Depois, na Nascimento, já conhecia algumas casas que faziam parte de minha rotina. Uma casa pequena, com um jardim acanhado, à esquerda de minha trajetória, onde sempre encontrava um senhor que transitava por ali, ora em direção ao centro, ora ficava apenas parado, observando a paisagem. Não tinha certeza se já me conhecia, mas tinha essa impressão. No outro lado da rua, uma casa enorme, com jardins imensos e muitas árvores. Às vezes, imaginava-a como uma fortaleza, guardando uma imensa biblioteca, outras vezes, achava apenas que estava abandonada. Coisas de minha cabeça.
Prosseguia o caminho com a pasta pesada, devido aos livros de cada disciplina e respectivos cadernos, além de lápis, caneta, régua, transferidor (alguém ainda usa?), esquadro, borracha, bloco sem pauta, etc., além dos gibis, que vez que outra, trocava com colegas. Sempre que atravessava o Canalete, naquelas pequenas travessas, sentia o frio vindo da lagoa, que parecia desembocar bem ali, na esquina que passava. Na volta, era como se o caminho fosse outro. O sol era mais forte, as ruas mais cheias, os carros rápidos na direção das casas, levando filhos da escola, voltando do trabalho no intervalo do almoço. O meu íntimo não era tão festivo como as ruas, embora fosse tão intenso quanto.
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