
“Zumbi dos Palmares, delatado por Antonio Soares, é surpreendido pelo Cap. Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros. Tem a cabeça cortada, salgada e levada, com o pênis dentro da boca, ao governador Melo e Castro. No 3º centenário de sua morte, emergirá como o grande heróis da luta pela liberdade no Brasil. A data é o dia Nacional da Consciência Negra”. Fonte: www.vermelho.org.br.
Nos dias de hoje, questões são elaboradas e discutidas e abrangendo vários aspectos sobre a intricada situação do negro no Brasil.
Muitos há que acreditam que os preconceitos étnicos já debandaram e que os envolvidos nas questões raciais, nada mais fazem do que subjugar a inteligência das pessoas, quando afirmam sentirem-se prejudicados pelo preconceito.
Acham que não existe preconceito e se os há, ocorrem de maneira dispersa, atingindo apenas alguns menos qualificados no cenário intelectual, ou seja, os operários, as pessoas que trabalham apenas com as atividades físicas ou que sobrevivem sob o domínio de drogas e miséria generalizada.
Para estes, o preconceito até é suave, pois estes seres representam exatamente aquilo que a sociedade considera perverso. Como se perversidade fosse privilégio dos homens negros, dos pobres, dos desprovidos de bens materiais e intelectuais.
Estes que assim pensam, na verdade, impingem o desqualificativo de indivíduos de segunda classe, que embora não admitam publicamente, são convictos desta “verdade”e a revelam em seus pensamentos e condutas.
Entretanto, o que se percebe é que o homem desta geração não evoluiu como se esperava, pelo menos, a partir dos grandes movimentos dos anos 60, quando se lutava pela liberdade, pelo direito de ser como se é e de se respeitar o outro, independente de raça, credo, orientação sexual, classe social ou qualquer outra considerada “diferença” do status quo estabelecido.
Pensávamos que o homem mudara e se transformara num ser múltiplo, cultural, evoluido, marcado por sentimentos, que desencadeassem em atitudes de acordo com o seu olhar no mundo.
Desta forma, fugiria do senso comum, que padroniza todos os gostos, todos os sabores, todos os nuances, todas os matizes e transforma a vida num cinza sem graça e insosso.
Na época de 60, eu ainda não me conectara ao mundo novo, porque ainda era uma criança. No final dos 70 e em plena ditadura, já adolescente, entendi a duras penas, que o homem estava aprisionado num sistema de medo e escapismo da realidade.
Naquele momento, era preciso reinventar a vida, para não morrer de inanição e tédio. Muitos optaram pelas drogas. Outros, como eu no final dos 70, num período de transição entre a infância e adolescência, percebi que me cabia lutar a meu modo, ou seja pelo conhecimento, pela leitura, pela religião, pela música de protesto, pela escrita, pelo engajamento político através de grupos de jovens, lendo tudo que aparecia sobre ciência política e filosofia. Uma maneira de me ajustar àquele mundo que desimbestara a consumir os encontros, a separar as conversas e alienar os jovens.
Houve outros, mais velhos que se engajaram nas guerrilhas, nas lutas contra a ditadura e estes foram corajosos e verdadeiros amantes da Nação.
Parece-me entretanto, que esta luta foi em vão em muitos aspectos. Não me refiro à democracia estabelecida, (embora estremecida nos dias de hoje). Esta foi fruto, sem qualquer contestação dos inúmeros movimentos sociais e políticos.
Refiro-me ao legado do novo modo de pensar, das novas diretrizes nos relacionamentos humanos, que em nada se assemelhavam às atitudes patriarcais e autoritárias da época, ao contrário, lutavam contra tudo que era proibido.
Houve execessos, claro, como em qualquer vanguarda, tanto na sociedade alternativa, quanto nos movimentos de amor livre e drogas.
Na verdade, tudo que se pensava de um novo mundo e compartilhado, um tanto utópico, não se concretizou.
Ao contrario, a ignorância parece ser o ingrediente mais utilizado nas relações humanas nos dias de hoje.
Este pensamento canhestro e torpe é repercutido e disseminado em várias áreas.
Há pouco, uma mulher que participou de uma manifestação que pedia a intervenção militar no Congresso Nacional, denunciou um painel com a Bandeira Nacional e a Bandeira do Japão, em homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil, confundindo-o como comunista. Para ela, a nossa bandeira nacional era comunista porque tinha o símbolo vermelho, questionando a nova bandeira do Brasil. Neste caso, a ignorância anda em Boeings de última geração, mas conhecimento a passos de jumento.
Neste mês da consciência negra, observamos que toda a história de luta, de aprendizagem, de busca de liberdade das gerações anteriores não trouxe os objetivos almejados.
Nem vem ao caso, aqui, tentar elucidar os motivos, inclusive, porque é imprescindível grandes pesquisas sociológicas para identificar estes retrocessos.
Talvez a violência, o esfacelamento do núcleo familiar, o uso intensivo da tecnologia em proveito apenas da divulgação individual, através das redes sociais, na tentativa de se inventar um personagem perfeito, onde as mazelas se escondem atrás dos perfis imaginários, a hipocrisia dos relacionamentos, o uso abusivo e inadequado das tecnologias, nao sei.
É necessário um verdadeiro tratado sociológico e antropológico para chegar a alguma conclusão.
Entretanto, o que se tem claramente estabelecido é, que o homem persiste na linha da ignorância cega e individualizada, e aqui, parafraseando o texto de Bruno Rico, em seu blog, uma ignorância que encerra os homens em seus condomínios, que não tem paciência em ouvir os protestos de um artista, sobre sua condição social ou o discurso sobre os problemas de seu país.
Segundo Bruno Rico, “ A ignorância sempre foi, e sempre será um dos maiores problemas do brasileiro, e engana-se quem pensa que ignorância tem a ver com pobreza ou grau de instrução, tem muita gente com a conta bancária lotada de cifras, com diploma não sei de onde, que é totalmente ignorante em diversos aspectos”.
Em 1695, Zumbi dos Palmares foi apunhalado e morto.
Além disso, foi vilipendiado, como ser humano, sem o direito de um julgamento digno.
Se tal fato ocorresse nos dias de hoje, os instrumentos de justiça seriam outros, mas as atitudes das pessoas não seriam as mesmas: preconceituosas, intolerantes, hipócritas, imbecis?
Um nível de extrema involução a que o brasileiro médio chegou.
Resta-nos esperar, que as coisas mudem, que os registros sejam mais limpos e que a história seja contada noutros moldes, menos reacionários e mais libertários.
Que o dia nacional da consciência negra se multiplique em muitos dias, e que se promovam também outras consciências, que o homem habite outros sentimentos tanto nas relações humanas, quanto para as interações com a arte, com a cultura, com as religiões ou a falta delas, com o livre pensar, com as orientações sexuais, com as ideologias, com a convivência sem divisões.
Que o homem tenha consciência!
Que evolua!
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