A Revolução Farroupilha sempre foi contada pelos historiadores oficialistas e pela mídia atual, pela ótica dos vencedores, ou seja, dos gaúchos que lutaram com bravura e fidalguia para alcançarem a vitória. Mesmo não havendo vencedores de nenhum dos lados, já que houve um grande acordo que semeou a paz.
Na crônica “Tênue limite”, publicado neste blog, eu procuro dar vida ao outro lado do povo gaúcho, aquele que talvez seja herdeiro dos que apenas lutaram sem serem reconhecidos e para os quais, nem a vitória, muito menos a fortuna prevaleceu.
De todo modo, esclareço que não sou contra a Revolução Farroupilha como a criação de uma mitologia em torno dos homens dos séculos XIX, que lutaram no Rio Grande do Sul, como a honradez, a fidalguia, a virilidade e a valentia. Tudo isso faz parte de nossa tradição e cultura, incorporado em nosso imaginário gaúcho.
Entretanto, não posso ficar alheio à outra parte da história, que foi escondida pelos historiadores oficialistas ( não me refiro aos historiadores atuais, mas aqueles que faziam uma descrição apenas dos fatos considerados históricos e gloriosos para a nossa terra, ou que elaboravam suas pesquisas de acordo com as ordens governamentais). Refiro-me à história dos não tão dignificantes episódios, como as intrigas entre os chefes, os desmandos, os erros estratégicos e a terrível traição de Porongos, quando os negros combatentes ficaram desarmados e entregues à morte.
Acho que é preciso repensar o passado. Acho também que o povo que vive no interior de nosso Rio Grande não possui essa pujança e orgulho para demonstrar um sucesso da Revolução, pois foi na verdade um conflito regional entre grandes estanceiros e o Governo Imperial, não foi uma revolução do povo gaúcho em sua totalidade.
Amo a cultura do Rio Grande, de seu folclore, sua luta em se manter dignos frente às circunstâncias mais inóspitas, mas não posso ficar indiferente a esse povo campeiro que também deve ter orgulho de seus ancestrais e conhecer a sua verdadeira história, não aquela emoldurada pela mídia.
Houve um povo derrotado que não recebeu as benesses da Revolução, mas este povo também faz parte de nossa história e possui a mesma cultura, a mesma fidalguia e valentia dos vencedores.
Acredito que, como dizia o escritor Ricardo Piglia, que “nada pode ser pior para um derrotado do que ler, anos mais tarde, a história contada pelo viés atrofiado dos vencedores.”
Então, segundo o que penso, que foge um pouco do senso comum, que também deve-se falar deste campeiro, deste peão, deste gaúcho do campo que não se situa como um herói e nem conhece a sua história.
Por isso, elaborei a minha crônica, que mostra um tênue limite entre a galhardia e todas as glórias do gaúcho enaltecido pelo poder e sua história humilde. É a este que me refiro. Acho que ele faz parte do nosso Rio Grande.
Ilustração:https://pixabay.com/pt/users/cocoparisienne-127419/
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