Como não sai de casa, não tive dificuldade em abrir a garagem e me deparar com dezenas de carros impedindo minha saída. Nem chegar ao centro e nas cercanias do porto velho, tentar estacionar exaustivamente e acabar desistindo e ficando tão longe, que o melhor seria ficar em casa. Mas como não sai de casa, não tive a urgência em entrar em filas, pagar contas e ajustar os saldos para desembolsar quantias que talvez precisasse transferir a credores ou a contas de empresas que vendem produtos online. Nem deveria importar-me com as voltas que daria para chegar à padaria ou correr ao supermercado para fazer as últimas compras do dia. Ou quem sabe, me aborreceria alarmado com os preços, acostumado que estava a sorrir com a baixa inflação. Mas como não sai de casa, evitei tudo isso e talvez evitasse olhar para trás e sorrir para um amigo na fila ou mesmo acenar para um colega que me aparecesse na calçada, enquanto esperava o cruzamento das vias proibidas. Ou talvez fosse ao shopping e tomasse um café expresso, enquanto decidisse o que teria que comprar (ou fazer). Mas como não sai de casa, tudo isso ficou para outro dia. Ou talvez não. Pois como não sai de casa, nem vi as pessoas gritarem alto os seus protestos nem se manifestarem contra ou a favor deste ou daquele evento. E como não sai de casa, nem preocupei com o sol na moleira, com o protetor solar grudento, nem em vestir-me adequadamente para andar na rua. Como não sai de casa, não vi a algazarra dos vereadores, nem a polêmica formada pelo tema crucial da educação, nem mesmo os policiais que formaram uma barreira humana para impedir o acesso da população. Mas como não sai de casa, nem me preocupei com nada disso. Nem com propostas de educação, que para alguns significavam um retrocesso, nem o retrocesso que alguns significavam. Mas como não sai de casa, não vi nem a banda passar, porque não passou em minha janela. Se passou, foi por lá, entre os gritos e assobios, entre os xingamentos e as discussões, entre a luz e a sombra. Como não sai de casa, nem soube que o assunto havia sido discutido há um tempo atrás e os representantes do povo nem tinham percebido a sua importância e só se deram conta, no momento da votação. Nem vi que os mesmos que vociferavam contra as questões de gênero eram os mesmos que muitas vezes, se aproveitavam desta condição para se locupletarem em seus prazeres. Mas como não sai de casa, não me vesti de várias cores, nem fiquei entre os indecisos. Nem sei quem ficou em cima do muro, quem desceu ou o transpôs. Nem sei quem disse sim ou não. Como não sai de casa, não voltei indignado nem feliz, nem ouvi a música que entoa meus trajetos. Nem fiquei ansioso com o toque do celular, que me manda mensagens alucinadamente. Nem parei o carro para saber se havia alguma coisa importante para ser lida. Nem desviei da moto que se atravessou, bamboleando entre as filas que se agigantavam na avenida, nem me irritei com o motorista do ônibus, que ziguezagueava entrando e saindo do acostamento e investindo toda hora na fila engarrafada. Nem liguei os faróis, nem ouvi a rádio discutindo futebol ou amenidades, nem discussões mais acaloradas da comunidade. Nem mesmo soube do que acontecia, porque não estava lá. Nem perguntei também, se os que estiveram lá sabiam com profundidade o plano de educação que debatiam? Se haviam discutido com a sociedade os argumentos que eram levantados? Se não estavam somente preocupados com os votos que teriam nas próximas eleições? Não, não pude perguntar, porque não estava lá. Mas eles estavam.
Estranha obsessão (2011), ( pode haver alguns "spoilers" ) em francês “Le femme du Vème” ou em inglês “ The woman in the fifth” é uma produção franco-polonesa, dirigida por Pawet Pawlikowski. Ethan Hawke e Kristin Scott Thomas formam o estranho par romântico na trama de mistério. O protagonista é Tom Richs (Ethan Hawke), um escritor norte-americano que se muda para Paris, para se aproximar de sua filha. Já em Paris, depois de ser roubado, se hospeda em um hotel barato. Numa livraria, é convidado para uma festa, onde conhece uma viúva de um escritor húngaro (Kristin Scott Thomas), tradutora de livros, com a qual mantém um romance. Por outro lado, mantém um romance no hotel, com uma linda polonesa (Joanna Kulig, atriz polonesa). Por fim, é acusado de suspeito por um crime, pois seu vizinho de quarto é assassinado. Para livrar-se da acusação, tem como álibi o encontro com a viúva, em sua casa, porém, a polícia descobre que a mulher havia cometido suicídio em 1991. Mas toda es...
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