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O lado bizarro da alegria

O poeta tinge de cores fortes o que produz a mente, o escritor descreve o que seu sentimento aviva, enternece, destrói. Usa da palavra como adaga, faca afiada que lhe corta de modo cirúrgico a dor mais profunda, que o dilacera e o fragmenta. Não é possível falar de modo prosaico das cores primaveris, dos sorrisos das crianças que se enfeitam entre jardins e esquinas, dos jovens que se encontram, quando a máscara serve de anteparo à dor, à morte, ao medo. Não é possível a mesmice da alegria das borboletas, quando uma sombra obscura tolda o horizonte, por mais otimistas sejamos, por mais que tentemos ser felizes e descolados da realidade. Mas eis que está aí, ante nossos olhos e corações e ao termos empatia, sentimos tão forte a dor, que nos encolhe e desaparece qualquer beleza primaveril. Dizem que o poeta é melancólico? Que o escritor é pessimista? Mas o que é a natureza, se não a humanidade que a compõe? O vírus faz parte da natureza. Os vermes e bactérias também. O mundo subterrâne

Quase parente

Ela nem tinha chegado aqui e eu já me emocionara com a sua presença. Era forte, altiva, esclarecida e divertida. Nas poucas horas em que tínhamos contato, na verdade, eu que ficava hipnotizado por ela, meu dia ficava mais festivo. Ou melhor, a noite, o período em que realmente nos encontrávamos na casa de uns amigos de meus pais. Depois, passávamos praticamente uma semana sem nos vermos. Até que chegou o grande dia. Ela apareceu majestosa, imponente, tomando conta da casa como se fosse uma visita. Uma visita esperada, aguardada e que já tomava ares de hóspede eterna. Ficava no melhor lugar da sala, defronte ao sofá, onde permanecia mais exposta e parecia estar sempre pronta ao diálogo. Diga-se, a bem da verdade, que às vezes, parecia indisposta, um tanto alheia e embora fizéssemos o possível e o impossível para que correspondesse, não dava as caras. Mas nunca a censurávamos, ao contrário, ficávamos felizes quando ela voltava. Muitas vezes, não foi exclusividade minha, amigos apareciam

Como um androide

Ando pela cidade como um estrangeiro num país estranho e hostil. A passos largos, enfrento os caminhos que sempre me foram tão familiares. Sentia-me em casa. Andava pelas ruas como uma extensão de meu quintal. As pessoas eram apenas pessoas conhecidas ou não, um público que se avantajava na direção do centro ou dos bairros. Quase não percebia seus rostos, porque me era natural observar assim, preocupado com meus afazeres. Algumas cumprimentava, quando considerava conhecidas, outras me aproximava porque eram amigos que fortuitamente passavam por mim. Ou era aquele vizinho, quando morava em determinada rua ou mesmo o dono do boteco da esquina, ao qual eu conhecia há muito tempo. Agora, já não vejo estas pessoas, paira uma ameaça no ar, um medo que se agiganta e que me deixa inerte. Um pânico do vírus que assola nosso país e o planeta inteiro. Parece que aqui, ele fez moradia não tão temporária e insiste em se replicar como um androide de um filme sci-fi . Também assolam os pensamen

Quando a noite se aproxima

Quando a noite se aproxima, assim tão lenta e desesperançada, me pergunto por ela. Será que pensa como eu, que sente as mesmas dores, os mesmos males e febres infindas? Será que vela com pensamentos escusos achando que a noite passa e tal como veio arrastada, se afasta e se nivela ao mar, com sol, luzes e sombras? Será que a voz da noite responde e detém meu sangue agitado? Será que provoca o caos, que ocupa as vielas escuras e as transforma em caminhos? Talvez o muro se rompa e a vida que outrora parecia embaçada, se encha de luz e os homens se encontrem e liguem os princípios tão próximos e distantes, tão aparentes e ocultos, tão coletivos e solitários. Quando a noite se aproxima, assim tão rápida e confiante, me pergunto por ela. Será que abrirá as comportas e mostrará a força que possui? Será que vigia acordada e zela cuidadosa o sonho que carrega consigo, como o filho primogênito recém-chegado? Será que se aproxima acesa como lamparina trêmula ao vento sob mãos frágeis, mas d

Não posso calar

Como falar dos dias tranquilos e ensolarados do outono, das tarde agradáveis e noites frias. Como falar das folhas amarelando pátios, calçadas e ruas? Como falar das aves que se apropriam dos espaços agora um tanto vazios e se mostram encantadas e encantando na sua beleza natural e avidez de liberdade e alimento? Como falar do vento que cria e recria dunas, que as destrói e reconstrói, que as troca de lugar e potencializa caminhos, às vezes mais arenosos, às vezes mais úmidos pela água do mar. Como falar das pequenas flores que se erguem submissas ao vento, calmas entre as depressões ali mesmo nos cômoros quase ondulantes? Como falar das ondas do mar, que se ajustam ao entardecer conservando vagas platinadas, quase translúcidas num avantajado azul? Como falar das gaivotas que riscam o céu, tão próximo ao mar que quase o tocamos, esticando o braço, esperando o pousar entre o céu e a mão nas garras molhadas e o bico salgado da pesca habitual. Como falar da lua que surge lenta e cordial

Onde ficou a poesia?

Onde ficou a poesia? Onde ficou a ilusão? Perdidas numa esquina qualquer, sem sonhos nem saudades a serem desfrutadas? Que se curte agora? A chacina no Rio? A morte de homens negros? O desvio de verbas endereçadas a kit de medicamentos e aparelhos, em plena pandemia? A morte de milhares de pessoas diariamente? O descontrole de um governo que debocha da morte que não lhe pesa nas costas, porque não as assume? Porque as deseja com espírito assassino? Onde ficou a poesia onde só há dor? Onde ficou a alegria onde só há morte? Onde ficou a segurança e a confiança, onde só há descalabro? Onde ficou a verdade, onde só há fake news? É uma dor contínua, que agoniza ante nossos olhos diariamente. Uma dor que nos invade, que nos impede de sonhar, de sorrir. Uma dor que nos deixa inerte, sem espírito de luta, sem esperança. Pois quem devia alertar a população, produzindo campanhas de vacinação e isolamento social, quem devia comprar vacinas desde o ano passado e não o fez, quem debocha d

Mãe no jardim

Às vezes, lembro a velha janela de veneziana e postigos verdes. Observava os rodamoinhos, folhas que giravam numa agitação festiva e alguns sacos plásticos efetuavam rápidos vôos para mergulharem em seguida na calçada ou no meio do rua. O vento fustigava a janela. A tarde era melancólica. Minha mãe passeava entre as dálias, diversas begônias, umas com folhas riscadas de vermelho, outras com um verde mais intenso, algumas com pendões de flores azuladas, além de uma roseira de rosas pequeninas que ela insistia que se grudassem ao muro. Brigava com as formigas que rendavam as folhas, lutava no pequeno jardim, no qual canteiros simbolizavam o seu afeto e dedicação pelas plantas. Havia arbustos maiores, a tal da Eva e do Adão, com folhas imensas, bem desenhadas e muito verdes. E as hortênsias? As hortênsias eram o seu xodó, sempre floriam na hora certa e mudavam a cor conforme a distância entre elas. Se havia hortênsias rosas próximas a azuis, elas trocavam de cor. As rosas mais azuladas

Folhas

Folhas caem lentamente Pairam algumas, seguem devagar a corrente Parecem sonhar e mergulham como plumas no ar Folhas caem lentamente Trazem consigo olhares e nostalgia Talvez de um passado recente Ou de uma vontade vazia Folhas caem lentamente Aproximam-se do chão e das raízes Pesam na grama impunemente Ou se debatem em rodamoinhos, às vezes Folhas caem lentamente Transformam a realidade mais bonita Não importa se afofam o chão clemente Se a árvore fica fria e despida Se os grãos viram semente Apenas que o outono abranda a desdita Fonte: https://pixabay.com/pt/users/rihaij-2145/

O guri

Quando o vi pequeno e raquítico, não soube executar nenhum gesto. Quando o vi mal abrir os olhos na luz ofuscante da manhã, quase me afastei acovardado. Quando o vi, faminto e maltratado, quase chorei sentado em minha complacência. Então, pedi, suplicante. Não acorda guri, mesmo aqui, sob a marquise nesta calçada suja. Dorme guri, não vale à pena acordar. Dorme e sonha. Com que sonha o guri sozinho, se não uma porção de sorvete e balas de goma? De que vive o guri na rua, se não de sonhos? Terá ainda sonhos, o guri? Tenho eu, empurrando com os pés o saco de latinhas amassadas. Sonhos sinistros e medo de acordar. Medo que ele se aproxime e sua baba, sua fome, sua sede e seus sonhos respinguem em mim. Medo que tenha de enfrentar a dor dos outros, de mastigar sozinho as horas solitárias pelas quais passa, medo de pensar e me sentir menos humano do que ele. Por que levar a comida na geladeira de rua e sair correndo com medo da proximidade? Talvez a pandemia expliq

Mudez

Fico calado. Não tenho o que dizer. O silêncio, às vezes, é uma benção. Pelo menos para os que dividem, não argumentam, nem ouvem. Mas ficar calado, não impede a ansiedade e a frustração. Estas aumentam, devoram-nos e num círculo vicioso, nos fazem calar ainda mais, embora nosso coração grite de angústia e dor. Há tanto o que dizer! Mas quem há de ouvir? Quem se interessa? Há tanto a pedir, há tanto a lutar! Mas a luta parece inglória. Perdemos sempre. As ondas virulentas se sucedem, tão fortes e resistentes quanto o ódio. Nada importa. Não importa que nossos irmãos morram, agoniados, sem ar, sem força, como animais desamparados ao relento. Não importa, que muitos passem fome, e se espalhem pelas favelas como moscas contagiosas, onde não lhes é permitido qualquer brecha de vida ou esperança. Não importa a morte porque ninguém é culpado, ou melhor, todos são, com exceção do governo. Este que lidera com intolerância e ódio genocida a uma legião de “homens de bem”, parece estar muito

Motor estagnado

O homem sonhou que atravessava a lagoa e de repente, o barco parou bem no centro, entre as ilhas e o cais, como se fosse uma imposição dos dias atuais. Não, não era na direção de São José do Norte, nem na direção do centro da cidade, por ali, perto do mercado público. Na verdade, era um pouco mais longe, lá pelas bandas do bosque. E o cais, que ele chamava, não passava das margens arenosas que cercavam seu quintal aramado. Estava lá, entre dois pontos. A referência da margem da casa e a ilha defronte. Talvez fosse Porto do Reino, pensou. Não, ele não pensou, ele sabia. Ficou ali parado, pensativo, sem qualquer reação. Nada que fizesse, produzia algum movimento no barco. Motor estagnado. E as águas também não fluíam, como o tempo. Tudo parado, quieto. Estranho. Mas estava vivo. Talvez tivesse uma iluminação, pensou, embora soubesse que era um sonho. Ele estava dentro do sonho e não conseguia acordar, mas sabia que estava dormindo. O céu parecia aproximar-se do barco, trazendo um fo

Se o Natal chegar

Se o Natal chegar e eu não estiver preparado. Ele vem de mansinho, se avizinhando em nossos pensamentos, sentimentos e corações. Se o Natal chegar e ainda estiver em dias atribulados, assustados, perdido em promessas que se esvaem em cada pronunciamento, em cada desfavor que fazem à população, em cada mentira degradante que se alastra em grupos de WhatsApp, em cada ficção de nos tornarmos robôs com DNAs estranhos, catapultados dos alienígenas chineses, sim, parecem que eles nem são da Terra e imagem, vermelhos! Se o Natal chegar e eu ainda estiver neste impasse, de me encontrar embatucado com tanta mediocridade, tanta falta de noção ética, moral e científica. Se o Natal chegar assim, de mansinho, se avizinhando, quem sabe, eu esqueça por um dia, umas horas, que a ficção é o tempo decorrido antes do Natal e depois, e que agora é a realidade, que vai além das fronteiras do olhar midiático, das redes sociais, dos pronunciamentos falsos, dos desgovernos, das mentiras. Então é Natal e

A bailarina

Rodopia, brinca, vive Leve, suave, brisa que envolve Fugaz, matizes diversos, entoa Música que dança na pontas dos pés. Vive, brinca, rodopia Sonha com brilho, ribalta, luzes Desperta olhares, gigante no foco Diverte-se assim, brinca conosco. Brinca, vive, rodopia Descarta dor, metamorfoseia em sonho Beleza, alma solta, brisa, frescor de sol. Brinca, rodopia, vive Disfarça a realidade, finge ser poeta, anjo, meretriz A bailarina é atriz.

Onde ficava a dor

Precisava sair e ver de perto aquelas crianças que sorriam, corriam por terrenos baldios, fingindo que eram campos de futebol e se perdiam alegres na experiência do sol. Então, me perguntei angustiado, onde ficava a dor? A dor dos que se consumiam em contas, em brigas rebuscadas, em tons alternativos de valentia e medo. Onde ficava a morte rasteira que rondava os condomínios abarrotados de perfis estranhos e desconfiados. Por que não se sabia seus nomes? Por que as crianças brincavam felizes? A felicidade não tinha ambiente naquele meio. Ela até vinha devagarinho, teimosa e se alojava naqueles olhos febris, nos corações vigorosos de quem corre e pula e brinca e se esfarela em sonho e esperança. Que queriam as crianças da favela? Por que se alienavam da fuligem dos fogos em fundos de quintais, de calçadas quebradas e veias dispersas de águas turvas e nojentas. Por que ultrapassavam a borra das valetas imundas, enlameadas de dejetos e o que mais entulhava as valas d

Agitação impetuosa

A noite já acabrunhava os ossos mais frágeis pelo sereno que se intensificava. Doía uma certa melancolia, às vezes doce, às vezes ácida, deixando na boca uma secura que despertava a vontade intensa de qualquer líquido. Como se jorrasse do céu, por um minuto, um décimo de minuto, uma água nítida e brilhante, muito mais do que chuva, mas alguma coisa forte que significasse um banho profundo na alma e no corpo. Um banho que me transportasse a outro extremo da vida, talvez mais doce, mais límpido, mais puro, mais profundo. Caminhei como pude, enquanto as luzes se apagavam e surgiam as dos velhos postes das ruas transversais. Na casa acachapada no chão, uma calçada alta, que realçava o que havia lá dentro mais do que as paredes esverdeadas da casa. Uma luz tão amarela quanto às dos postes, mas mais fraca e algumas sombras, como fantasmas que se deslocavam de um lado para o outro, acercando-se da janela, espiando pelas frestas, tentando ver um pouco do mar escuro que jazia bem longe,

O novo normal

Chegam as compras, tudo adquirido online. Põe a máscara, acerta nas orelhas, um pouco caindo, não pode tocar na parte da frente. Abre a porta, olha para o entregador, entre assustado e desconfiado. Ele usa máscara? Está usando somente aqui, na minha frente, ou acabou de colocar no carro e andava aí pela rua, descuidado? Como pensar em tudo isso e ainda pegar as compras e o pior, pagar em dinheiro porque não recebe em cartão. Pegar o troco. Coitado, está sofrendo com toda esta loucura tanto ou mais do que eu. Na verdade, mais, muito mais, porque está se arriscando o tempo todo. Pego o troco, me atrapalho com as sacolas de plástico que deveriam ser abolidas. Mas aqui estão elas. Me despeço do entregador, que se afasta rápido na moto. Sento num banco baixinho, esparjo álcool principalmente no local em que ele segura a sacola, mas só por enquanto, porque logo, que tirar os mantimentos, terei que passar o álcool em todos os pacotes, e separar os sacos plástico

Tempos e momentos

Houve momentos em que não teve lua, ou seja, ela surgiu tímida entre algumas nuvens e desapareceu. Mas nós sabemos, que ela estava lá, escondida entre as nuvens e realizando os mesmos movimentos, claro que na sua velocidade, tão diferente da nossa percepção. Houve momentos em que a noite escura parecia se propagar e permanecer para sempre, que as estrelas houvessem sumido ou terminado o seu tempo e embora outras nascessem, não as víamos e o universo parecia mais escuro e solitário. Tínhamos impressão de uma noite eterna e que nunca mais veríamos a luz do sol. Mas, eis que o sol nasceu e aos poucos a luz no horizonte começou a surgir e iluminar os campos, as casas, as ruas, os dias. Houve tempo de muita seca, estiagem nociva para ao solo cada vez mais árido, cujos grãos morriam e os sobreviventes produziam frutos frágeis, esturricados pelo sol, danificados pela fragilidade de sua constituição. Houve tempo de chuvas, de alagamentos, da terra encharcada e vimos mu

ATOR ARRASA EM FALA SOBRE CORONAVÍRUS

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Pandemia

Espio o mar e sinto a espuma das ondas orbitarem por meu cérebro, minha mente, meu espírito. Outras vezes, passeio por terras distantes, sentindo nos pés e na moleira o calor do sol, o fustigar do vento, o estalar do salto nas calçadas de pedra. Por momentos, o calor abrasador, quase chama, quase incêndio, nas areias escaldantes do deserto, o vento assobiando nos ouvidos, borbulhando no coração e mentes, o reluzir do brilho nos óculos escuros, a dor na fronte, a sobrancelha levantada, a falta de ar. Por momentos, estou no ar noir da Londres molhada, as correrias às avessas à procura de criminosos, o rio lamacento da noite sem lua, um corpo estirado, boca escancarada, medo na lanterna do celular. Às vezes, viajo tranquilo nos trens que seguem percursos longos, entre países, embora perceba entre seus passageiros uma certa de desconfiança de que alguma coisa está prestes a acontecer. Por vezes, ouço uma música no Spotify e meu coração se ilumina e minha mente, meu espírito

O cheiro doce da maresia

Fonte da ilustração: Bernhard_Staerck in: www.pixbay.com Quisera falar coisas agradáveis. Talvez anunciar que ando lendo livros, ouvindo músicas , que arrumo minhas estantes e desorganizo meus pensamentos. Talvez a única opção correta é o caos de pensamentos. Quisera sorrir com as piadas, com os memes da pandemia, com os artifícios de comunicação em mídias menos afeitas ao jornalismo. Quisera sorrir e ver beleza em imagens da natureza, nos programas de viagens, nos realities falsos de construções e vendas de casas ou de restauração de carros. Quisera me divertir com programas de humor, de me emocionar com dramaturgia, de acalentar a alma com a melodia. Mas não consigo. Meu coração está apertado e meu peito não se expande para dar vazão a sopros de esperança. Fico emocionado sim com o pessoal que trabalha na frente de batalha, como soldados fiéis e fortes, em nossa defesa. Parece que a humanidade está tão frágil e as questões de classes, etnias ou orientações sexuai