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Sobre O Doce bordado azul

Na próxima Quinta-feira publicaremos dois capitulos do nosso folhetim O doce bordado azul. Por problemas no sistema nao apresentaremos hoje. Grato pelos inúmeros acessos.

NOITE FELIZ

Noite feliz Meu avô, lembras, das noites natalinas, à espera daquela consagrada a Ele? Lembras das carruagens enfeitadas com luzes, em cenários enluarados, onde fogos riscavam céus e nossos olhos encantados nos anjos vestidos de gente? Lembras das tuas frases curiosas, tuas histórias brilhantes, teu afago em meu peito, enquanto seguravas firme a minha mão, assim, pequena, na tua tão grande? Mão de avô, firme, forte, segura. Lembras? Não, não mais lembras e se o fazes, deve ser de uma maneira diferente em que as lembranças ecoam contagiadas da mesma alegria anterior, sem esta melancolia que me atinge. Talvez não haja mais passado para ti, nem futuro. Só o presente em que me acompanhas de longe, inspirando-me melodias e poemas, que inventas sem que eu perceba, para que seja feliz. És bem capaz disso. Teu coração sublime, tua verdade inabalável. Tuas histórias em que me incluías ao lado de cada herói, de cada passagem vibrante, onde a vida brotasse plena em nossas mãos

SOU DO CONTRA!

Eu sou contra tudo isso. Não importa que me fritem com azeite quente, nem que me façam ferver no fogo do inferno. Sou assim e não vou mudar. Quero acabar com as alianças dos que se enfileiravam à direita do prato. Há os que se regozijam do mal que nos fazem, mas tenho comigo, que apenas servem ao verdadeiro sabor da vida. Dias e dias os assisti calado, sem dizer nada, esperando que algum dia liberassem. Dei com os burros nágua. Mas agora, não vou voltar atrás, não vou declinar por falsas ameaças. Está na hora da luta. Comecei agora. Retirei devagar aquelas alianças de barbante que envolviam as linguiças campeiras, uma por uma e coloquei para o outro lado do prato. Da direita, para o outro canto, para incluir na mesma porção, os temíveis pedaços de bacon alinhavados com o queijo gorgonzola e o paozinho de alho. Todos os embutidos foram se soltando, as linguiças amarradas se transformaram em pequenos blocos de petiscos proibidos, um a um, pendurados em argolas, agora desfeitas e s

OS DEZ TEXTOS MAIS LIDOS NO MÊS DE NOVEMBRO/2015

1º - Comentários emocionantes sobre a crônica “Refugiados em seus sonhos”publicada em 04/10/15 2º - O doce bordado azul - 16º capítulo 3º - O doce bordado azul - 15º capítulo 4º - O doce bordado azul - 17º capítulo 5º - O elo do encontro 6º - Meu avô: existir é compartilhar 7º - Caminhos traçados 8º - Países que mais acessaram o meu blog nos mês de outubro/2015 9º - A calça comprida 10º - A velhinha do riacho Foto de Wilson Rosa da Fonseca

RELAÇÕES MÚTUAS

Este conto deu origem ao mote do romance "O eclípse de Serguei" Aspirou o cheiro de alho no dorso das mãos. Fungou. Deu até alguns espirros. Alergia danada. Insuportável. Olhos vermelhos, como se esmagasse cebolas. Era somente o alho triturado com a faca, sobre a pia branca, branquinha, mármore impecável. Era mármore mesmo? Olhou para os lados, procurando a hora no relógio da copa. Buscou num canto do olho a luz da rua. Suspirou. Tomou água, pensou na vida. Examinou-se no fundo da concha: aqueles olhos grandes, a pele encardida, dedos esbranquiçados. Sentiu um suor forte escorrer pela nuca, molhando o cabelo. Já estava crescido demais, pensou. Largou o alho moído, aproximou-se da primeira cadeira que encontrou e encostou a bunda, de leve, temendo afundar no vazio. Por um momento, pensou que morreria. Bobagem. Era só um contratempo, um empacho qualquer no estômago. Ninguém morre por comer demais. E ela tinha sido glutona demais, como dona Matilde costumava chamá-la. Você é g

O DOCE BORDADO AZUL - 22º CAPÍTULO

Hoje é quinta-feira. Nosso folhetim continua com o 22º capítulo. Na próxima terça, continuamos na sequência. Espero que gostem! Faltam 8 capítulos apenas!Vamos a ele! Capítulo XXII A visita de Gustavo Quando entrou, Gustavo imediatamente acomodou-se no sofá, observando atento os outros móveis. Percebeu que Bárbara sentara na lateral de um divã antigo, com as pernas finas enviesadas, uma colada na outra, de uma maneira que julgava elegante. Pensou em fazer um galanteio, mas calou-se. Ela poderia levar a mal, achando que havia algum interesse de sua parte, que não fosse o motivo por que viera até a sua casa. Bárbara, vez ou outra, virava o rosto para a janela, olhar perdido nos telhados cheios de musgos e plantas que se sobressaíam, cultivadas pela umidade das infiltrações. Ele achava-a uma moça estranha. Tinha uma certa tristeza solene, que não conseguia decifrar o motivo. Via em seus olhos uma dor inatingível, o que não lhe diminuia a beleza e simplicidade. Talvez pela

O DOCE BORDADO AZUL - 21º CAPÍTULO

Hoje é terça-feira. Nosso desbragado folhetim continua com o 21º capítulo. Na próxima quinta, continuamos na sequência. Espero que gostem! Faltam 9 capítulos para o fim! Capítulo XXI A briga e o reencontro Laura estava curiosa para saber detalhes do encontro de Lúcia com Bárbara, mas tinha lá suas reservas. Temia que tudo viesse à tona e devesse dar explicações à filha. Não era do seu feitio ficar na berlinda, justificar-se, como se deparasse com um tribunal. A curiosidade, porém era imensa. Percebera que Lúcia não se afastara um só segundo do quarto, desde que chegara. Via pela abertura debaixo da porta, uma luz que incidia pelo corredor, além de pequenos barulhos, como se carregasse objetos, fizesse as malas. Esperaria ali, na sua janela. Por certo, logo Lúcia lhe traria as novidades que tanto ansiava. Deixou-se ficar assim, quieta, assistindo um programa qualquer de tv, sem prestar a mínima atenção. Tomava de vez em quando um copo de refrigerante e mexia no controle co

O destino do homem?

Na fábula, o sapo foi terrivelmente traído pelo nefasto escorpião, ao ser transportado pelo rio. Ao ser ferroado, o sapo pergunta, na agonia da morte, por que o escorpião fez aquilo, se assim os dois morreriam afogados, visto que somente ele sabia nadar. O escorpião, então responde que é esta é sua natureza. Observando as pessoas e fatos, fico me perguntando, o que leva certas pessoas a trair, a enganar, mesmo quando são acarinhadas em suas relações. E logo, me vem a resposta do escorpião da fábula: é de sua natureza. Seria este o destino do homem, seria esta a sua natureza, a de trair, de mentir, de enganar despudoradamente, mesmo que não haja qualquer ganho?

O DOCE BORDADO AZUL - 20º CAPÍTULO

Hoje é quinta-feira. Nosso folhetim continua com o 20º capítulo. Na próxima terça, continuamos na sequência. Espero que gostem! Capítulo XX Os caminhos de Bárbara Bárbara procura por um ponto de táxi, mas parece que tudo fica muito longe naquela rua. Se ao menos tivesse ficado com o telefone do taxista que a trouxera, a estas horas já estaria a caminho de casa. Avista um grupo de pessoas, cujo objetivo provável é esperar algum coletivo, embora não haja nenhuma placa que indique um ponto. Aproxima-se de uma senhora e pergunta se há alguma linha nas redondezas e qual é o destino. Informada de que o fim da linha é a parte velha da cidade, fica aliviada, pois é onde se situa o seu apartamento. Pelo menos, se afastará daquele bairro e pretende não encontrar Lúcia e Laura jamais. A dose já foi alta demais para um só dia. No ônibus, sente-se confortável olhando pela janela. Já não vê a cidade em que se encontra, mas em Minsk, bem longe, onde por algum tempo foi muito feliz. V

O DOCE BORDADO AZUL - 19º CAPÍTULO

Hoje é terça-feira. Nosso folhetim continua, hoje apresentando o capítulo 19. Na quinta, prosseguirá em sequência. Capítulo XIX A surpresa de Bárbara Bárbara desceu do táxi e caminhou pela rua estreita, procurando num pedaço de papel o endereço correto. Percebeu que o número não coincidia com o do prédio. Não tinha muita certeza de que estava no local certo, mas precisava seguir em frente, mesmo que para isso, fosse necessário caminhar, bater em portas, fazer perguntas. Por um momento, teve a sensação que estava nas ruas de Minsk, nas vilas densamente povoadas dos povos oriundos da Rússia e de imigrantes, como ela, que constituíam uma população tão eclética. Então, estremeceu. As mãos ficaram úmidas, os dedos engendraram pequenos movimentos dentro do bolso do casaco, nervosos. Precisava reagir, tentava convencer-se. Não era um tempo de boas lembranças, mas não podia ficar remoendo o passado, a tragédia que havia sido a sua vida. Também não sabia bem o motivo de procurar u

O elo do encontro

Tento prestar atenção em cores, janelas, platibandas, casas antigas restauradas ou em ruínas. Memórias que ficam ou apenas o passado depojado de sua história. Na história que produzimos, talvez as memórias não resistam ao próximo bafejo da moda. Ando pelas ruas e observo as casas e pessoas na sala de jantar ocupadas em nascer e morrer, como no Panis Et Circenses dos Mutantes. Na verdade, agora ocupadas em revelar no intervalo, a vida que vaza rápido pelas entranhas das vidraças. Vidraças das redes sociais, das fotos instantâneas, dos vídeos do celular, dos olhares importunos. Um selfie a qualquer custo, na vida ou na morte. Importa é revelar. Ando pelas ruas e vejo as crianças metidas em carros blindados, perdidas nos tablets, em joguinhos não tão inocentes. Ando pelas ruas e observo os meninos já não tão meninos, fazendo o próprio jogo de polícia e bandido, armando-se na aprendizagem cotidiana de seus pares não tão parceiros assim. Ando pelas ruas e vejo o mar se abrindo n

O DOCE BORDADO AZUL - 18º CAPÍTULO

Nosso folhetim como se fazia no século XIX, nos jornais brasileiros, continua em todas as terças e quintas, na sequência dos capítulos. Hoje, como é quinta-feira, senhoras e senhoritas, e também senhores, apresentamos mais um capítulo. Capítulo XVIII A ajuda Lúcia acordou pressentindo uma coisa líquida e pegajosa aproximando-se do quarto. Mal percebia as luzes da persiana, que se estendiam sobre a cama e abriu os olhos vigorosamente. Devia tratar-se de um pesadelo, desses de deixar a gente aterrorizada, percebendo sons inexistentes, ruídos aterradores, águas poluídas que fundem o corpo e a alma, numa afogamento fétido. Arbustos gigantescos, algas que se alinhavam ao corpo, como agulhas cerzindo o tecido. A mãe empunhando a agulha como arma cheia de veneno, instilando na pele, espalhando pelos dentes, amortecendo a gengiva. Doía-lhe o ouvido, o maxilar, a boca. Sentia um peso enorme na cabeça, como se carregasse pedra e aquela impressão da água suja se aproximando do q

O DOCE BORDADO AZUL - 17º CAPÍTULO

Nosso folhetim como se fazia no século XIX, nos jornais brasileiros, continua em todas as terças e quintas, na sequência dos capítulos. Hoje, como é terça-feira, apresentamos mais um capítulo. Capítulo XVII O amor de Laura Laura ouviu a filha afastar-se para o quarto. Foi até o canto da sala e a avistou: assim magra, esquálida, olhos inchados. Ela havia chorado. Mas que podia fazer se era assim, tão suscetível. Por que se preocupava tanto com a morte? Por que temia a morte? Na verdade, Lúcia sempre fora uma menina assustada, com medos estranhos, terrores do desconhecido, e a morte para ela, nada mais era do que o enfrentamento do ritual. O que sempre a assustou foi todo o ritual do velório, da palidez do cadáver, dos cantos fúnebres, da missa de corpo presente. Isso que a assustava, também causava-lhe certa curiosidade, que não conseguia evitar. Sabia que no fundo, havia um certo prazer com a morte e esse frisson a deixava em pânico. Não suportava alegrar-se com o ritual, conce