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Análise dos poemas: “Poesia do momento” “Sentir" e “Realidade” da poeta Dalva Leal Martins

As poesias devem ser declamadas, interpretadas. Em geral, é o que se pensa. Pelo menos, eu tenho comigo que são muito mais expressivas as imagens, os sentimentos, as sensações que os versos transmitem, quando os mesmos são lidos em voz alta. Entretanto, há o outro lado, a literatura difundida nas expressões literárias, no sentimento profundo que estimula a imaginação e o pensamento e lendo-se com absoluta atenção, percebemos nas entrelinhas o quanto as sensações podem ser intensas. Os poemas são suaves, leves, atingem devagarinho as nossas percepções sem percebermos, às vezes, o grau de envolvimento. Aos poucos, estamos completamente submetidos à emoção. Assim, aconteceu com a leitura que estou fazendo do livro “Sentimentos da alma: poesias, crônicas, pensamentos”, da poeta Dalva Leal Martins. São histórias que nos transportam a experiências vividas ou imaginadas, a momentos de alegria ou solidão, a sentimentos de busca e encontro. Na “Poesia do Momento” (p.16), observamos, atr

PARA QUEM A PAZ DE CRISTO, NÃO PASSA DE UM CUMPRIMENTO SOCIAL

http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg A paz de Cristo é um cumprimento que ocorre na missa, no momento em que se transmite ao outro, ao fiel que está ao nosso lado, este sentimento de plenitude e paz que Nosso Senhor nos outorgou e que hoje repetimos nos rituais litúrgicos. É um momento lindo, de pureza e afeto, que nos une um pouquinho ao divino e nos deixa mais humanos, mais próximos do outro, mais ligados à fé. Entretanto, às vezes, nem sempre este ato beneplácito é usado de forma natural. Muitas vezes, o cumprimento não passa de uma atitude estereotipada, usada apenas no aspecto social, quase uma obrigação. Nestes momentos, penso que estas pessoas deviam passar longe da igreja, ou caso participem de alguma atividade religiosa, que o façam com dignidade. Se não gostam da pessoa, que permaneçam com seus rancores ocultos, que se afastem e se juntem aos seus pares, mas não utilizem as palavras de Cristo como um modelo artificial, apenas para demonstrar em público, uma educaçã

SORRI

Quando passava rapidamente pelos sebos de revistas, livros e todas quinquilharias, gostava de procurar aqueles discos de vinil antigos principalmente os de coletâneas musicais. Às vezes, nem tão famosas, mas surpreendentes pela qualidade, embora ainda intactas nas caixas. Num desses passeios, percebia que as coisas mudavam de repente, que os vinis não me pareciam o antigo objeto de desejo, que havia outros motivos para os passeios, que nem sabia muito bem definir. Talvez o dia de sol em Porto Alegre, encontro com outros colecionadores e amantes de livros e discos, ou de quaisquer bugigangas que trouxessem um pouco de saudade. Nestes momentos, o mundo não parecia o mesmo, movia-se mais rápido. Com o tempo, percebia que, na verdade, procuramos muitas coisas e nossos desejos de felicidade estão bem escondidos, num lugar quase impenetrável e cada vez que os buscamos, o fosso se alarga e ela se espalha, como mercúrio do termômetro quebrado. Ágil, imperiosa. Às vezes, alegria tra

O OUTRO

http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg Estava assim à procura do tempo e o avistei sozinho. Parado que se encontrava à porta da igreja. Barba longa, desleixo involuntário. Pele escura, encardido. Sol a pino, um boné velho, virado para o lado, uma gosma escorrendo no canto da boca entreaberta com dentes falhados, amarelos, mastigando levemente a vida. Nos olhos, uma fuga estranha, um olhar para dentro, um não sei o que faço, que assustava. Por um momento, senti uma certa náusea. Olhar aquele ser humano, e poder enxergar esta condição, me apavorava. Difícil para qualquer um entender. Difícil pensar no assunto e enfrentar a situação. Aproximei-me com moedas pesadas, ajustadas na palma da mão, mergulhadas que estavam no bolso, escorregadias no tilintar dos dedos. Acho que o assustei, porque me olhou de soslaio, meio apalermado, temendo talvez uma sacudida, um pedido que saísse, ou uma ordem de evacuação do espaço. Que nada. Sorriu ao ver o brilho das moedas, bem maior para os seu

O PROJETO DE LEI

O conto "O projeto de lei" foi finalista do 2 º Concurso de Contos de Santo Ângelo (RS), promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de Santo Ângelo. Faz parte de uma antologia de contos (prêmio). Estava a poucos metros da tribuna. Coração assaltado. A camisa ajustada no corpo esquálido. A boca ressequida, o ar faltando. De repente, ela apareceu, elevou-se numa névoa, atravessando o corredor estreito que desembocava no púlpito. Todos os olhares se voltaram, um zum-zum se ouviu, quase alarido a sua passagem. Uns riam, piscavam o olho, irônicos, outros acenavam uma dúzia de pedidos e a distribuição insana de favores. Eu continuava convicto, confiante nas propostas, nas ideias e em sua escalada a um posto tão alto. Vivia lá, com minhas rabugices e meu cavalo acompanhante. Vez por outra, o via pela janela do sonho: pobre coitado, tão raquítico quanto eu, pelo desbotado, sem vida, puxando o resto das gentes de bem. Eu ali, domando a vida, dominando e dominado por ele. Às

O mundo evoluiu?

Às vezes, me pergunto o que está havendo com as pessoas, com os jovens que, de certa forma, ditam as regras da sociedade em que vivem (pelo menos nos grupos que participam e nos quais exercem grande influência). Provavelmente, minha avó teria este mesmo pensamento de dúvida e estarrecimento,  na época em que todos éramos  jovens e gritávamos aos quatro ventos as nossas angústias, os nossos objetivos bem calcados em modelos distantes de sua experiência, numa vanguarda que muitas vezes assustava. Talvez coisas bem mais brandas, como deixar o cabelo comprido, a barba por fazer, um cinturão de couro na cintura, uma calça santropê, com uma nesga do lado da perna. Por outro lado, havia as discussões filosóficas intermináveis, as procuras por novos caminhos na política (para alguns), a leitura dos grandes autores e entrar de cabeça nas novas ideias, os desejos de ser livre a qualquer preço, de sair do jugo dos pais, dos professores, dos mais velhos. Não se confiava em quem tinha mais de 3

A vida andava devagar

Como morava próximo à Praça Saraiva, meu pai às vezes tomava o bonde, que saía do abrigo, via Aquidaban, dobrava na linha nova e prosseguia pela Colombo fazendo a curva na Praça. Na Bento Gonçalves, o fim da linha. Morávamos em frente à Padaria União e lembro bem, meu pai cevava o mate, apanhava a garrafa de leite da soleira da porta, comprava o pão de quilo, tomava o café e saía para o trabalho. Era o pão que nos aguardava para o café antes da escola. Recordo, certa vez em que voltava no Saraiva, com meu pai. Eu, apoiado no final do vagão, observando os trilhos que fugiam céleres ante meu olhar, escoando histórias pelas alamedas que se perdiam, homens apressados para o trabalho, crianças no caminho da escola, donas de casas afoitas para abastecer a despensa. Lembro de uma tia que estocava a tulha com cereais, pois temia uma presumível guerra mundial. Além disso, tinha por hábito, enfeitar a cozinha com artesanato em crochê. O forro do botijão que compunha o fogão Wallig

AS MENINAS DA SOCOOWSKI

São lindas, feias, morenas, loiras, negras e sararás. São pobres, jovens; jovens demais. Aparentam entre 14 e 21 anos. Não se sabe precisar ao certo. Afinal, permanecem ali, na beira da calçada, sem sonhos ou direções. Seus encantos e encantamentos se foram há tempos, na sarjeta da rua sem meio fio. Por certo, há pouco brincavam e vez que outra, ainda o fazem, na imaginação. Brinquedos usados, roupas da última campanha, dores do desfazer, do quase inexistir. Estão lá, considerando-se belas, cabelos despenteados, roupas que nem lhes cabem, botas compradas com o dinheiro da humilhação e decadência. As meninas da Socoowski*. Talvez tivessem outro destino. Talvez não se desfrutassem nas madrugadas e manhãs frias da Socoowiski, oferecendo-se nos pontos de ônibus ou aos caminhoneiros de passagem. Talvez tivessem outros sonhos, se a vida lhes fosse afável. Ou não. Buscam o que precisam, não refletem, não questionam. Seus sonhos são rasteiros e doídos, despidos de qualqu

Restauração da imagem por ser considerada feia

http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg A notícia sobre a restauração da   imagem de Nossa Senhora do Caravaggio, em Farroupilha, tem no mínimo, um quê de absurdo. Parece que   que conta realmente nos dias de hoje, é a aparência, até mesmo da imagem das santas. Fica de somemos importância a fé, o carisma de Nossa Senhora, a devoção dos peregrinos.   Segundo a maioria que reivindica a maquiagem na face da estátua, reitera a desproporcionalidade da imagem, identificando uma figura excessivamente feia e por isso, não compatível com a grandeza de Nossa Senhora. Mas onde está a grandeza,   se não um elo de intercessão entre os fiéis e Deus? Ou na aparência que deve incentivar o turismo? E que critérios foram discutidos para sugerir uma mudança na estrutura da escultura? Quais os critérios artísticos que comprovam que há uma desproporcionalidade na obra? Quem pode afirmar que esta condição que foge ao modelo padronizado   não induz a formas artísticas que produzam mo