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DOCE OBEDIÊNCIA

Costumava agir assim, seguir o conselho dos mestres. Jamais se furtava a obedecer, fosse qual fosse a ordem, a regra, a observação, o pedido. Era doce, plácida, quase sempre mergulhada em profunda melancolia. Gostava de sofrer, pois significava viver uma vida que não a sua. Quem sabe, a de uma heroína medieval, crivada de medos, de sentimentos obtusos, de falta de liberdade e cheia de inspiração e amor. Às vezes, tinha surtos de labirintite e gostava de sentir-se um pouco zonza. Mostrava ao mundo seu sofrimento e solidão. Já passava dos quarenta, tendo por companhia um gato siamês, castrado, gordo, calado, preso a uma corda. Subserviente, tal como ela. Se ao menos, tivesse um namorado, traria consigo a conspiração da vida, que se achegava pertinho, se arrastando, deixando- se avistar apenas pela janela. Mas só. Não tinha ninguém. Ah, também tinha suas costuras, das quais vivia e se sustentava. Mas por elas, não nutria nenhum sentimento. Detestava as mãos ágeis de como esticava

O que as hemácias tem a ver com meu blog?

http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg Sou leigo em ciências da saúde, mas pesquisei por ai, que as hemácias ou glóbulos vermelhos dão a cor vermelha característica do sangue, porque contém um pigmento vermelho chamado hemoglobina. Que há de novo para os especialistas? Nada. Apenas para o meu objetivo. Ah, também dizem que 1mm³ desse líquido, o que equivale a mais ou menos uma gota, pode-se encontrar, em um homem adulto, cerca de 5,5 milhões dessas células, o que corresponde a 45% do volume de sangue. Em mulheres adultas esse valor é reduzido, cerca de 4,85 milhões de células por mm³. E tem outra, as hemácias vivem no organismo por até 120 dias. Isso significa que no decorrer de uma vida são produzidas e destruídas uma infinidade de eritrócitos (hemácias), sendo que, a cada dia que passa morrem em média 20 mil hemácias por milímetro cúbico de sangue. Pensando nisso, com um grau de curiosidade e absurda ignorância, cheguei ao tema, sem ter a pretensão de elucidar ninguém, apenas
"CONSIDERAÇÕES SOBRE O FILME "O MENINO DO PIJAMA LISTRADO"  O filme “ O menino do pijama listrado”, baseado no romance de John Boyne retrata acima de tudo a amizade, alicerçada no olhar de uma criança, que vislumbra com  carinho um outro mundo que desconhece, um mundo onde as crianças e todas as pessoas se vestem com pijamas listrados, conforme a sua concepção infantil. O monstro da guerra é mais terrível que qualquer fantasia de suas histórias de maior vilania e o pior de tudo é que a própria família, a começar pelo pai está envolvida com o cenário de destruição e reforma de padrões considerados necessários aos reclames étnicos  e raciais. Um ódio estabelecido em mentes perversas e  subalternas  dos oficiais nazistas, inseridos num cenário de intensa insegurança e desconfiança. A história inicia com a vinda da família destes oficiais para o campo de concentração, no qual residem numa casa confortável, construída numa região isolada da área dos refugiados. com o

Trabalho voluntário no Hospital Psiquiátrico: uma provocação para a vida

Participávamos de um grupo de jovens religiosos, no início da década de 80. Era um grupo incomum, porque embora ligado à igreja católica, recebia participantes sem religião definida, sendo um deles, inclusive, espírita. Formava um caldo interessante, porque os argumentos, ainda que às vezes, estéreis, produziam alguns encaminhamentos para discussão. Era realmente um agrupo eclético e ecumênico. A linha que nos norteava era a solidariedade com o próximo. Queríamos inconscientemente modificar o mundo, pelo menos minorar o sofrimento dos que estavam a nossa volta. Diversos temas vinham à pauta, tais como moradores de vilas pobres, desempregados, idosos do asilo, crianças sem acesso a brinquedos ou lazer. Era uma pauta bem extensa, mas houve um tema que foi sugerido por mim. Tratava-se de algum tipo de trabalho com os pacientes do hospital psiquiátrico. Houve de imediato, uma certa aversão e pânico pelos integrantes do grupo. Classificavam os transtornos mentais a partir da ag

UM NATAL DISTANTE

Há quem se lembre dos natais da infância e são estes os que realmente preenchem a nossa memória, trazendo de volta a fantasia, a alegria e a recordação da família naqueles momentos intensos. Tenho comigo que os natais são todos bons, a menos que tenhamos tido algum sofrimento marcante e as coisas, aí, trilhem caminhos mais estreitos e tortuosos. Lembro de muitos natais da infância e acho que na maioria foram muito felizes. Entretanto, há um em especial, em que eu não era criança, nem adolescente, nem vivenciava aqueles momentos de encantamento em que somos pais com filhos pequenos. Tinha meus 20 e poucos anos e o Natal se resumia a um pequeno encontro de família, com os pais e irmãs, a missa do galo e no máximo, alguma festa maior à noite, em que houvesse danças e namoricos. Nada que se compare às baladas explosivas de hoje em dia.  E este natal começou muito cedo. Na véspera, numa tarde de sábado. Um desses sábados à tarde em que as pessoas já fizeram as suas compras ou aind

A rebeldia dos guris e gurias da LES

http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg Lendo os artigos dos alunos e participantes da LES, ficou-me a impressão de que as pessoas aos poucos se acomodam ou se adaptam de acordo com as circunstâncias em que estão envolvidas. Tenho comigo, que os guris e gurias não se dão conta da extrema relevância de suas atuações, produzidas através de atitudes, procedimentos e interesses pessoais e coletivos. Já explico. Seus interesses podem ser até inconscientes. Querem, precisam como todo ser humano estar junto, participar, partilhar dos acontecimentos, de tal forma que suas ações sejam reconhecidas pelo grupo e muito mais do que isso, que eles próprios interiorizem em suas mentes a capacidade humanitária de doação, mesmo que os sentimentos sejam confusos, conturbados e toda a correnteza não surja com clareza. Mas as águas descem rápidas pela cachoeira, formam veios  nas rochas que jamais são apagados pela natureza, ao contrário, eles crescem, se aprofundam e tornam-se verdadeiros cortes. Da

RELIGIÃO - RELIGIO - RELIGAR A DEUS

Tenho pena dessa gente. Dessa gente que julga, que menospreza, que segue quase sempre o senso comum da pseudo justiça. Via de regra, acusam de forma destemperada e discriminatória, sob qualquer circunstância em que se depare com uma situação que as assuste. Talvez as apavore, do ponto de vista interno, porque o medo, na maioria das vezes, está dentro de nós mesmos. De nossos pensamentos mais escusos, de nossas fragilidades, nossos pequenos deslizes quase sempre intocáveis e esquecidos no fundo do baú de nossas consciências. Estas pessoas, em geral, são aquelas que rezam muito, que ficam se persignando na frente de qualquer santo e em qualquer situação, que vão às missas, que participam de novenas, que expressam toda a religiosidade que possuem e demonstram um carinho especial por todos os papas. Não falo dos religiosos que abraçam em plenitude as suas crenças e as seguem segundo a doutrina do bem e do amor ao próximo. Falo dos religiosos que também acreditam, que seguem as
http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg Comissão da Verdade vai investigar morte do presidente João Goulart - Política - iG http://t.co/kLg4Lp9CWB via @ultimosegundo — GILSON BORGES CORRÊA (@gilsoncorrea) November 16, 2013 Há muitas dúvidas, que esperamos ansiosamente que sejam dirimidas. Aconteça o que acontecer, mesmo que não tenha havido assassinato por envenamento do Presidente, houve, infelizmente para a nação, um latrocínio da liberade, um golpe sujo e violento que considerou vago o cargo do chefe da nação, para na calada da noite, tomarem o poder. Tempos difícieis. Tempos de dor e agonia. Tempos de espera e morte da liberdade. Nada será alterado na história de nosso País, mas pelo menos, a verdade virá aos poucos e o povo brasileiro descobrirá que as margens plácidas em que estava deitado, não eram tão tranquilas assim, e que talvez agora tome consciência do turbilhão de sofrimento em que se instalara. Graças à Comissão da Verdade, a história está sendo reescrita e a mem

Os pombos não devem ser alimentados

Tenho observado que nas ruas da cidade, e não somente em praças ou próximos à igrejas, os pombos proliferam de modo desregrado a p onto de serem atropelados, em determinados momentos. Eles já não temem os transeuntes. Passeiam tranquilamente, esgueirando-se entre calçadas e ruas em busca do alimento que lhes é oferecido regularmente. As pessoas, por certo, tem consigo que alimentam um pequeno animal que possui uma simbologia muito forte, como a da paz, e talvez por isso, subjetivamente acreditem que estão apenas trazendo beleza e alegria aos passantes e moradores. Entretanto, estes animais, os pombos precisam, na verdade, alimentar-se através de suas próprias andanças por comida, pois somente assim, se esforçarão para a busca e não se reproduzirão tão facilmente, percorrendo grandes distâncias para tal fim. Eu tenho observado senhoras com crianças, distribuindo porções de pães aos pombos, e as crianças convivendo com as aves, inclusive perseguindo-as, em seu encalço. Os pais riem,

A VARSÓVIA QUE VI: suas peculiaridades, beleza, modernidade

http://kbimages.blogspot.com/url-code.jpg Há tanto a falar sobre a Polônia, um país que me conquistou a partir da sua história e a experiência de seu povo, que soube preservar a memória e visualizar o futuro baseado em suas raizes mais vigorosas. Observei que Varsóvia, a capital, cujo centro histórico, chamado de “cidade velha”, é uma região que se reergueu, totalmente reconstruída de acordo com as suas origens medievais. A cidade destruída pela Segunda Guerra Mundial, pelos alemães e  hoje, amplamente restaurada,  evoca a memória do povo  que tange em cada pedra, em cada mármore, em cada ladrilho. Portanto, é um triunfo da vida que passa serena e precisa, produzindo uma metamorfose de beleza e integridade. A morte, a desesperança, o furor da guerra, deram lugar aos monumentos históricos que expressam o seu passado e a esperança do futuro. Ali, na região histórica, vê-se o Castelo Real, que se transformou em ruínas, sobrevivendo  apenas a porta central. O povo polonês o reconstru

A CINZA EM QUE ARDI

Sempre a vira expor-se de maneira ridícula. Pelo menos para os padrões da época. Tinha lá seus quase oitenta anos e se vestia como uma mulher de trinta. Um vestido godê preto, que ao vento lhe subia nos ombros, aos meus olhos espantados de 10 anos. Na boca, um batom vermelho delineando os lábios sumidos. Um sorriso largo, de dentes miúdos, com falhas inevitáveis. Gostava de sentir-se assim, livre e talvez a sensibilidade aflorada na pele revelasse apenas o desejo de felicidade. Uma brisa, um aroma, um sopro de vida. Todos ou quase todos a chamavam de louca. Ou senil. Ou velha destemperada. Não lhe permitiam explosões em seus pensamentos, nem alfinetadas nas ideias que não se constituíssem um dedal. Mentes torpes, endurecidas pelo hábito higiênico e padronizado da maioria. Eu, como criança, talvez a seguisse no que tinha de melhor. E o melhor eram os livros que me oferecia. Livros tão antigos quanto à coluna que se comprimia nas vértebras enferrujadas. Livros amarelecidos, capas andraj