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A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV Clara levantou-se inquieta e espiou pelas frestas da veneziana. Luzes que evocavam movimentos, pessoas que passavam na calçada, lá embaixo, mas cujas vozes ressoavam agitadas, como se estivessem ali, bem próximas. Buzinas de carros, motos que rasgavam tímpanos, dilacerando ouvidos. Portões de ferro arranhando os pisos. Lojas abrindo. Operários chegando. Conversas no café, na padaria, nos açougues. Primeiros acordes do dia. Não conseguia relaxar, como pretendia. Pensamentos confusos, que iam e vinham ao sabor das recordações, ora agradáveis, ora tristes ou trágicos. Por vezes, lembranças da infância, trazendo-lhe aromas conhecidos de fins de tarde de outono, brincadeiras na rua, amassando folhas secas, ouvindo o estalido agradável de se partirem como papel. Vozes dos pais, resgatando pequenas alegrias, que se espalhavam no dia a dia, sem maiores preocupações, do que ser feliz. Até que eles desapareceram, um de cada vez, como folhas agora não mais rígidas,