Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo desertor

A CASA OBLÍQUA - CAP. XXIX

Clara releu várias vezes a última página. De repente, sente-se invadida por uma estranha euforia. Percebia naquelas linhas um recurso para o futuro afortunado de Luisa. Ela casaria com Saymon e juntos criariam o seu filho. Ficou pensativa, folheando as páginas para ver se adiantava outra descoberta. O que havia acontecido com este filho? Sempre a visitara no seu apartamento, tão solitária. Nunca falara no filho. De repente, a luz que iluminava outro cômodo mais ao fundo apagou-se e ela estremeceu. Por um momento, pensou que estava em seu apartamento e levantou-se rapidamente, dirigindo-se ao corredor, mas se deteve quieta. Uma bruma tomava conta do ambiente. Retrocedeu alguns passos, voltando para a poltrona. Ficou imóvel, assustada, na expectativa de que alguma coisa ruim acontecesse. Ouviu passos que ecoavam em outros pontos da casa. O som se aproximava, ficando cada vez mais elevado e próximo, atordoando-a. Clara encobriu os ouvidos com as mãos, encolhendo-se na poltrona, er

A CASA OBLÍQUA - CAP. XXVIII

Luisa esperou atenta, sentada num banco de madeira. Nada a fazia voltar atrás, nem a demora que a sujeitavam, numa tentativa de confundi-la e fazê-la desistir. Uma parede envidraçada a separava das máquinas de escrever, dos policiais ao telefone, dando ou recebendo ordens, misturando a fumaça de seus cigarros no ambiente. Às vezes, a olhavam atônitos. Sacudiam a cabeça. Conversavam entre si. Ela desabotoava o fecho da bolsa, procurando uma caneta e um pedaço de papel. Escreveu o telefone da família, seu nome completo, para uma provável comunicação. Precisava tomar alguma atitude, mas não podia comprometer seu pai. Devia imputar toda a culpa em si, de forma que seus argumentos fossem bem convincentes para evitar qualquer envolvimento. O telefone tocava insistente num gabinete. Um rapaz saiu do compartimento maior, atravessou a sala onde ela se encontrava e entrou no cômodo onde se ouvia o tilintar do aparelho. Ela estava com as mãos frias e suadas. Tirou o chapéu, de

A CASA OBLÍQUA - CAP. XVIII

Hoje prosseguimos nosso folhetim rasgado “A casa oblíqua”que mostra a vida de duas mulheres diferentes, mas que em datas distintas tiveram experiências muito parecidas: Clara e Luisa. Entretanto, parece que Clara a cada dia, confunde o seu presente com o passado da amiga e começa a tomar o seu lugar, numa história que não é sua. No capítulo passado, Clara lembra a conversa que tivera com Luisa, que falava sobre uma fotografia. No capítulo a seguir, temos a história de Luisa apresentada, desde o momento que dirigira-se à igreja, como mencionara à Clara. A seguir, o capítulo XVIII. Luisa fizera o percurso, reservada, procurando manter-se calma. Saymon não devia ter se atrevido a sair de casa, em meio a tantas ameaças. Ele além de arriscar a sua vida, com a possibilidade de ser descoberto e entregue às autoridades militares, colocava em perigo a segurança de sua família, o emprego do pai, que apesar de todas as contrariedades, o havia acolhido em sua casa. No fundo, Luisa es

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO XIV

Clara acordou e já não se reconhecia como a mulher centrada e responsável que era. Estava arrependida por ter tomado uma atitude impensada, moldada pelo momento, inspirada nas confidências e a confiança que aumentava com a convivência com Nael. No entanto, não devia deixar que as coisas acontecessem daquela maneira. Ela já havia sofrido muito, já se frustrara demais com Bruno. Não podia cair na mesma armadilha da paixão, da ilusão de que estava apaixonada, de que iriam construir um futuro juntos. Não, ela não devia se iludir daquele modo, como uma adolescente, principalmente depois de tudo que havia passado. Além disso, Nael não era um homem que poderia levar consigo ao cinema, fazer compras no shopping, casar, ter filhos. Era um homem marcado, um clandestino, que devia à justiça de seu país e permanecia ilegalmente no Brasil. O tempo se esgotava rapidamente e mais dia, menos dia, estariam à cata dele, como um criminoso e ela estaria seriamente prejudicada. Foi aí, que teve uma idéia,