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Cinema de rua e sonhos de primavera

Uma noite de primavera. A brisa leve sussurrava em nossas testas suadas. Meu pai vestia paletó azul, meio gasto. O olhar se perdia ao longe, como se aguardasse o galardão de ouro. O longe que se perdia, na verdade era a tela de parede caiada. Ele parecia mais ansioso do que eu. Sua boca entreaberta sorria. De repente, fitou-me e ficou sério. Eu é que deveria estar feliz e ter muitas expectativas naquele momento. Seria uma noite e tanto: uma noite só de homens. As mulheres ficaram em casa. Daqui a pouco, chegaríamos na rua onde seria projetado o filme. As pessoas se aglomeravam entre vendedores de algodão-doce e pipoca, enquanto atravessávamos ruas de paralelepípedos e trilhos. O caminho habitual agora atingia um ar festivo e uma euforia se rendia a nossas mentes curiosas. Aos poucos, o cenário quase onírico se formava. Na calçada, paramos sob uma árvore, já apinhada de meninos à espera do espetáculo. Para meu pai, eram apenas meninos de rua, sem disciplina. Ele era assim:

A esquina iluminada

Fabrício desceu os vinte e cinco andares do prédio, tateando pela luz fraca do celular. Ainda bem que não tomara o elevador, pensara, ainda aturdido pela queda de luz. Dirigiu-se ao carro e em seguida afastou-se, passando pela portaria e cumprimentou com um meio sorriso os dois funcionários, que pareciam olhá-lo surpresos. Já chegando à rua, ouviu um “oh” festivo pelo retorno da iluminação. A noite se antecipava e ele continuava no bairro tão próximo ao de sua infância, olhando pelo retrovisor do carro, como se a qualquer momento um personagem desavisado voltasse para o cenário antigo. Coração atribulado. Desceu do veículo e caminhou rápido, atravessando ruas, dobrando esquinas, sentindo o frio produzido pelo sereno que molhava do paletó aos cabelos. Em seguida, deparou-se com um bar muito parecido com o de seu pai. O frontispício com aquelas ramadas sobre a porta de duas abas, expressando o tempo passado. Havia música ruidosa anunciada por um apresentador, espécie de show

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO XXVI

O nosso folhetim prossegue hoje com a entrada de Clara na casa enterrada na areia, que supõe ser de Dona Luisa. Investigando os entulhos que encontra, faz várias descobertas interessantes. Por outro lado, no passado, Luisa enfrenta a mãe após saber que havia delatado Saymon. Divertam-se com o capítulo XXVI. Clara calçou os sapatos, temendo ferir os pés nos cacos das vidraças. Com esforço, abriu uma segunda janela, ajustando o corpo contra a parede, empurrando o ferrolho emperrado. Sentiu-se vitoriosa. Com a luz da rua, pode ver o assoalho, com tábuas quebradas ou frouxas. Alguns móveis esparsos pela sala em ruínas, uma poltrona com pés de palito, da qual não se percebia as cores, tão gasta e envelhecida se encontrava. Uma mesa de um metal semelhante a bronze. Nada mais havia. Então, Clara enveredou por outras peças, que se tornavam cada vez mais escuras, à medida que se afastava da sala. Entrou no que seria um quarto. Olhou em torno. Viu que não havia móveis, mas uma janela a

O DOCE BORDADO AZUL - 15º CAPÍTULO

Todas as terças-feiras e quintas publicarei capítulos em sequência do romance "O doce bordado azul". A seguir o 15º capítulo. Capítulo XV A transformação de Laura Laura agora sentia-se aliviada. A conversa com a filha lhe transmitia a segurança que sentia evadir muitas vezes, como se perdesse o controle sobre seus atos. Mas conversar com Lúcia, impor-lhe suas razões, tinha o poder de retomar aos poucos a segurança, talvez até a autoridade que mantinha sobre a filha, pois esta não conseguia encontrar qualquer falha em seu caráter que pudesse acusá-la. Voltou ao bordado com sofreguidão, experimentando uma criatividade instantânea, uma necessidade de concluir o trabalho com urgência. Sua autoestima estava em alta. Lúcia, ao contrário, continuava desanimada com tudo que acontecera. Ela lhe dera dicas de como mudar a situação adversa, mas não fora ouvida. Pelo menos, por enquanto. Mais dia, menos dia, aos coisas mudariam e ela a obedeceria, pois era a única alternativa vi