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Pandemia


Espio o mar e sinto a espuma das ondas orbitarem por meu cérebro, minha mente, meu espírito.

Outras vezes, passeio por terras distantes, sentindo nos pés e na moleira o calor do sol, o fustigar do vento, o estalar do salto nas calçadas de pedra. Por momentos, o calor abrasador, quase chama, quase incêndio, nas areias escaldantes do deserto, o vento assobiando nos ouvidos, borbulhando no coração e mentes, o reluzir do brilho nos óculos escuros, a dor na fronte, a sobrancelha levantada, a falta de ar.

Por momentos, estou no ar noir da Londres molhada, as correrias às avessas à procura de criminosos, o rio lamacento da noite sem lua, um corpo estirado, boca escancarada, medo na lanterna do celular.

Às vezes, viajo tranquilo nos trens que seguem percursos longos, entre países, embora perceba entre seus passageiros uma certa de desconfiança de que alguma coisa está prestes a acontecer.

Por vezes, ouço uma música no Spotify e meu coração se ilumina e minha mente, meu espírito se rendem à melodia e aos arpejos e meus olhos se esquecem do que vejo.

Depois de tudo, paro e penso. Mas pensar não conforta, nem resolve. Então volto à santa loucura dos livros, das séries, dos filmes, das músicas e tentar viver, pelo menos um pouco, esta realidade, enquanto a pandemia nos enche de notícias, indignação, medo e às vezes, esperança.


Fonte da ilustração:autor John Hain in: www.pixbay.com.

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