Aquela velha frase de clarice, mas sempre justificada por seu discernimento e apego à verdadeira literatura: a vida é um soco no estômago.
Ela demonstra em sua postura em relação à vida sempre interagindo com a ficção, uma intrepidez, que não admite concessões. Nesta afirmação, ela levava às últimas consequências, porque a vida é traiçoeira e bruta, ela não admite retorno, nem suavidade. Ela dói, magoa e pune, porque é a verdade. A última verdade da vida, que tira o sujeito do prumo, como se fosse um soco e somente assim, pela palavra doída e verdadeira ela vai ficar no lugar de outra pessoa.
Desta forma, o autor se destaca e constrói a verdade com muito trabalho e dor. Para Clarice e para o mundo, existem dois pilares básicos da subjetividade, que segundo Freud, são o conteúdo e o afeto. O ser humano não possui apenas cognição, é também afeto, é dor, é sentimento. Ele precisa levar este soco, este susto para refletir sobre ele mesmo e sobre o mundo. É preciso haver o conflito consigo mesmo, caso contrário, de que adiantaria a literatura? Apenas uma história cor de rosa?
Clarice Lispector é uma autora que mergulha nos cantos muito escuros do indivíduo, nos pequenos espaços que tendemos a não confrontar. De certo modo, ela nos atrai com uma narrativa, às vezes irônica, fazendo um jogo com o leitor, construindo de uma maneira para desconstruir depois, o que para nós já estava organizado. Neste embate, ela nos mostra e nos reconstitui os recantos mais escondidos, as paixões negativas ou malditas. Traz à tona, o confronto do sujeito no mundo de maneira imprevista, quando acredita que tudo está sob controle. Neste momento, ela o tira do eixo e o coloca diante de seu íntimo mais incômodo e tudo acontece junto ao personagem que nos desperta este mal estar e nos impõe momentos de desequilíbrio.
A literatura tem esse papel de fazer uma reflexão, refletir sobre as coisas que nos incomodam que precisam deste processo
para alterá-las.
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