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Uma tentativa de análise do texto poético da canção “A noite do meu bem” de Dolores Duran

A noite do meu bem é uma canção composta e interpretada por Dolores Duran e também representada por centenas de cantores. É uma verdadeira poesia com um eu-lírico desenhado em sua estrutura à espera da noite perfeita com seu amado. Tentei aqui desmembrar a letra, procurando decifrar de algum modo a intenção poética da autora. No entanto, ela, em poucas palavras, mostrou um mundo de sentimentos profundos e intensos. Eu tentarei em alguns parágrafos esmiuçar esta habilidade de jogar com as palavras e seus conteúdos, com tanta habilidade e talento.

A imagem da “rosa mais linda que houver”, mostrada na música/poesia composta e cantada por Dolores Duran, têm-se de imediato a beleza da flor ainda sob o orvalho da manhã, cujas pétalas tenras e o perfume ainda envolvem o ambiente. Tudo incide num processo onde partículas de cores, perfumes e sons nos remetem à virtude das cores e o arrebatamento do momento.

A seguir, ela persegue a beleza nos versos que se referem à “primeira estrela que vier”, o que nos parece sugerir uma espera pela longa noite, cujo encantamento do poeta preenche de pontos luzidios o nosso olhar que se perde e o sonho parece absorver em definitivo, o pensamento.

No decorrer da canção, “ a paz de criança dormindo” a autora reproduz a cena como uma metáfora de confiança representada no ser frágil cuja plenitude de entrega cumpre como garantia, o conforto, o carinho e o cuidado.

Já “na alegria do barco voltando”, a imagem propõe um quadro, cujos movimentos e matizes de luzes e sons, deduzem que o retorno é o encontro idealizado na comunhão do comandante com os que estão em terra. Mar e terra se completam e se tornam uma coisa só, onde a liberdade dos mares navegados se confunde e se integra às amarras dos barcos ancorados.

Em seguida, no verso “a ternura de mãos se encontrando”, ocorre aqui a conclusão lírica de que as mãos se encontram para perpetuarem alguma lembrança boa, um sentimento que une e consola, um carinho que se alonga, uma lembrança, um afeto que transborda e absorve a mensagem. Sempre uma busca e um encontro. Carinho afeição e perdão.

Quando praticamente chega no clímax, “ o amor mais profundo” representa o encontro consolidado, permitindo a plenitude do encantamento através do sentimento mútuo e da afeição que perdura. Aí ocorre “toda a beleza do mundo”, transborda a emoção e a certeza da felicidade fortalecida e perene.

Entretanto, nem sempre o sonho se realiza e quando a espera é longa, não prevalece no olhar o brilho da certeza, a pureza da esperança, a convicção de que o amor existe assim mitificado, assim poético, sentimental e romântico. Talvez pereça a integridade do amor, pois já não resiste ao sonho, já que a fantasia não se conclui na realidade. Por vezes, o olhar acena a uma certa ambiguidade, uma opacidade que embaça o cristal translúcido, então, como esperar e ao mesmo tempo possuir o mesmo amor para entregar se ele também se transformou?

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