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Mostrando postagens de fevereiro 7, 2017

Uma bomba e a aeromoça gaúcha

Meu amigo tinha por hábito externar qualquer pequeno problema que o acometesse. Às vezes, um mudança abrupta no seu estado psíquico, como uma melancolia, uma vontade de afastar-se de onde estava ou simplesmente um pequeno ruído que o incomodava. Via de regra, sabíamos que reagia com certo exagero às circunstâncias, mas respeitávamos o seu modo de ser e procurávamos conciliar seus pequenos desajustes aos nossos interesses.   Naquele dia, porém a coisa fora diferente. Estávamos reunidos no aeroporto para seguirmos à Brasília para um curso relâmpago de três dias. Éramos em torno de 30 pessoas e comemorávamos a ideia de projetar o nosso trabalho de marketing para a instituição em que trabalhávamos.   Ao entrarmos no avião, fomos para nossos acentos e conversamos animados com a possibilidade de ainda chegarmos cedo à cidade para quem sabe, irmos num bom restaurante após a chegada no hotel e nos prepararmos para o dia seguinte que seria bem puxado.  Meu amigo Júlio (era se

"A barca e a biblioteca" na Editora Metamorfose

A barca e a biblioteca na Editora Metamorfose A barca e a biblioteca é uma ficção que narra a trajetória de um homem que aos poucos descobre a verdadeira história de seu pai, morto nos tempos da Ditadura Militar Brasileira. Tudo começa nos anos 60, quando César, ainda menino, vive entre a fantasia de aventurar-se na barca à beira do cais e seus livros. Já na fase adulta, César é um bibliotecário que se vê envolvido em uma trama perigosa, com novos crimes, velhos fantasmas e duas histórias que se entrecruzam. Um romance de fôlego, envolvente e que foge dos clichês da representação da ditadura, mostrando sutis e cotidianas repressões.  Ficha técnica Autor: Gilson Corrêa Nº de páginas: 280 Gênero: Narrativa longa

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO V

CAPÍTULO V Quando o celular tocou, Clara não conseguia entender onde estava. Dormira durante tanto tempo que poderia ser qualquer hora do dia ou da noite. Então, pegou o celular que estava sobre a mesinha de cabeceira e atendeu, desligando-o em seguida, percebendo tratar-se de uma mensagem da operadora. Levantou-se, doída, sentindo as pernas bambas, como resultado de um esforço extremo. Ouviu ruídos lá fora, um galho de árvore que insistia em roçar a lateral do prédio, agitado pelo vento. Cães latiam ao longe. Voltou ao celular, desta vez para certificar-se das horas. O entardecer de inverno se despedia rápido. Anoitecia no mesmo compasso. Passava das seis. Espiou pelas frestas das venezianas e observou as luzes da rua. Procurou os óculos sobre o baú, limitando pela mão os espaços mais prováveis onde os teria deixado, talvez entre livros e revistas, ali esquecidos. Enfiou-os sobre o nariz, ajeitando-os com o polegar e como por encanto, o presente voltou à tona, com as

M o E d A s NaS F r E s T a S

Corri e juntei com as mãos todas as moedas. Nem pareciam de ouro, prata ou qualquer metal precioso. Eram de cobre ou estanho vagabundo, não sei. Mas faziam parte do meu mundo. Quando as atiraste no assoalho de casa, custou-me encontrá-las, caídas algumas nas frestas quase fendas que se abriam na madeira tosca. Temia até empurrá-las mais para baixo e chegar ao inferno. Temia enfiar a mão e todo meu braço ser sugado pelo inimigo desconhecido. A noite se formava lenta e eu sabia que precisava com urgência juntá-las e apanhá-las do chão antes que chegasses. Por certo, ririas na minha cara com aquele riso debochado que sempre se acendia nas horas de absoluta ironia. Quantas vezes te evitei e fingi desconhecer tuas metas. Quantas não ouvi o guizo de teu pescoço, saltitando pela floresta perto de nossa casa. Quantas vezes te esperei faminto e sonolento, com a certeza de que não virias. Mas hoje tinha certeza de que o sangue que te alimentava, alimentava também minha solidão. O sa