Pedro Nava, o grande escritor mineiro, autor de "Baú dos ossos", afirmava que a memória é uma coisa inextinguível, com suas coisas boas e ruins, mas pode-se fazer uma catarse, enquanto se escreve. Para isso, ele explicava: “eu tenho esquecido certas coisas que eu tinha completamente vivas dentro de minha memória depois que as pus por escrito. Depois delas escritas, desapareceram certas datas, certas pessoas. Certos aborrecimentos que eu tinha com determinadas pessoas desapareceram completamente. Eu fiz uma espécie de pazes com muita gente através da minha literatura um pouco vingativa sobre algumas pessoas que me desagradaram”.
De certo modo, todo escritor se vale de suas experiências pessoais, de características de familiares, amigos, conhecidos e até mesmo desconhecidos. Em geral, estas nuances de personalidade ou aparência física ou características especiais ficam na memória e são mescladas para construir determinado personagem.
É no fazer literário, na comunhão com seus fantasmas e expectativas que o escritor atua, de tal modo a percorrer caminhos que às vezes, percebe uma perplexidade em relação às próprias ideias transmudadas em estratégia literária.
É aí que acontece o estranhamento do leitor, a provocação do absurdo ou do choque da realidade, enquanto ocorre uma verdadeira catarse com o autor. Talvez seja complexa esta relação tão íntima e solitária, mas que se dá aos poucos, quando o leitor desvenda a leitura.
Acho que todo escritor exerce, talvez até de maneira inconsciente, a vingança declarada por Pedro Nava e acaba assim fazendo as pazes com seus fantasmas.
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