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A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO I

Antes de lançar a narrativa longa “A barca e a biblioteca” (que está à venda na Editora Metamorfose, no site http://www.editorametamorfose.com.br)no dia 28/01/2017, próximo sábado na Feira do Livro da Furg, no Cassino, Rio Grande, RS, eu havia criado o romance “A casa oblíqua”.

A partir de hoje, passo a publicar os capítulos neste blog, duas vezes por semana, normalmente nas terças-feiras e nas sextas.

Trata-se de uma história de amor, suspense e drama.

A vida em suas diferentes fases e problemas tão semelhantes.

A seguir uma pequena sinopse do romance A Casa Oblíqua e logo após o primeiro capítulo:

A vida, às vezes, prepara surpresas, tais como a de Clara, que após uma frustração amorosa vê-se envolvida com um refugiado, recém chegado ao porto da cidade onde mora.

Trata-se de um fato muito semelhante ao ocorrido com a vizinha solitária de seu prédio, Dona Luisa, há muito tempo atrás, na época da segunda guerra.

Clara então, parece assumir a personalidade da amiga e já não sabe se está vivendo realmente a sua história.

Com o passar do tempo, esforça-se em descobrir o que está acontecendo consigo e cada vez mais se compromete em virtude dos acontecimentos surpreendentes, que se sucedem.

Fatos estes que pontuam sua vida profissional e pessoal, deixando-a transtornada. Assumir a casa, a herança de dona Luisa e viver o grande amor do passado. Será este o seu destino?

E o refugiado? Sobreviverá ao amor de Clara e todas as questões políticas de seu País de origiem?

A partir de agora vamos apresento a vocês o primeiro capítulo de A Casa Oblíqua.

CAPÍTULO I

Sentir-se perdida, atravessando as vielas escuras como os tons de seu sofrimento. Nada mais lhe coubera a não ser prosseguir o caminho íngreme, vestir o uniforme do bom senso e tocar em frente. Clara precisava ser forte e mergulhar na realidade sem atropelos ou medos. Doíam-lhe as pernas, embora dirigindo assim, mansamente, atravessando correntes de água suja, temendo apagar o carro e ficar sem saída, na escuridão.

Os paralelepípedos pareciam saltar do lugar, escondidos na enxurrada, confundindo-se com as calçadas estreitas, as poucas luzes restantes, postes caídos, lâmpadas quebradas. O vento forte parecia ter derrubado a cidade. Nem conseguia empreender maior velocidade no veículo.

A dor que a assaltava transbordava a alma, deixando-a atônita. Voltar para o apartamento vazio e sentir o cheiro da vida comezinha do passado, produzia-lhe um arrepio, como se uma doença terminal assolasse a sua vida.

A vida ao lado de quem amava, com quem se sentia protegida e segura. A quem dera o seu amor, seus sentimentos mais puros e densos. A sua verdade. Agora estava sozinha, tão sozinha que temia não prosseguir.

Afastou-se da rua estreita, avançando por outra asfaltada, na qual percebia rasgos de luz, onde certamente não fora tomada pela enchente.

O vento assobiava nas janelas entreabertas e quando se aproximava do porto, assumia a aparência de furacão. Mas precisava ir, não podia negligenciar o trabalho, não podia perder o que talvez lhe restituísse a serenidade, a segurança, a garantia de retornar a ser uma mulher corajosa.

Não que refletisse dessa forma determinada: tudo se misturava em sua mente e até a confundia. atordoava-a. Pensamentos iam e vinham com a mesma velocidade do vento. Tal como ele, que retorcia vigoroso, os galhos, a mente transtornava suas ideias.

Quando atravessou a longa avenida, paralela ao cais, parou na frente do portão, fechando involuntariamente os olhos, ao ser interceptada por uma luz intensa de lanterna. O guarda avistou-a e abriu o portão, acenando rapidamente, escapando para a guarita, fustigado pela chuva forte, enrolando a capa amarela, na ventania.

Clara atravessou o portão, tentando estacionar bem próximo possível de seu local de trabalho. Tencionava permanecer lá, escondida, menos solicitada para evitar qualquer contato humano. Não queria ver ninguém, nem fazer nada, somente preencher o horário.

Mas de antemão, sabia que as coisas não transcorriam da maneira que desejava, pelo contrário, nestes dias de chuva intensa é que tudo parecia acontecer ao mesmo tempo. Naturalmente que não havia nenhuma ação que estabelecesse as ocorrências, mesmo porque todos os horários de navios eram agendados em planilhas muito bem detalhadas e impecáveis. Mas ela sonhava com uma noite tranquila.

Quando entrou, pendurou a capa de chuva no cabide, passou a mão rapidamente pelos cabelos e em seguida prendeu-os numa rabo para que secassem mais rápido, ou pelo menos não lhe molhassem a testa. Sentou-se à cadeira e ficou quieta, olhando para a tela do computador, cujos pontos negros na planilha indicavam movimento nas cercanias.

Pela janela envidraçada, avistou o negrume do mar. Instintivamente pousou o olhar na gabardine, assim pendurada, escorrendo pelo piso. Não sabe quando tempo ficou observando a cena, na verdade, o que via é o que estava em sua mente, o que não podia ocultar de si mesma.

Via na capa, a rotina da cena, só que na parede de seu apartamento, próxima à porta. Fizera o mesmo gesto, naqueles dias de intensa invernada.

Entrara exausta, rapidamente fechando a porta atrás de si, segurando com uma mão a bolsa e uma sacola com pães e frios, deixando a primeira num pequeno armário, como de hábito, juntamente com o molhe de chaves.

Correra para a cozinha e colocara a chaleira no fogo, antes mesmo de despir-se das roupas do trabalho.

Embora não tivesse muito tempo, ainda precisava pensar na prova de gestão pública que teria àquela noite.

Dirigira-se ao banheiro, passara um crime de limpeza para retirar a maquiagem e lavara o rosto demoradamente. Ensaboara as mãos, o rosto, o pescoço. Sentira a fragrância do produto e isto bastava para sentir-se feliz. Fitara a si mesma, como se conversasse consigo. Retirara as lentes de contato, procurara os óculos pelas gavetas do armário e sentira-se renovada, embora nem tivesse tomado um banho completo.

Primeiro o café, a espera, o descansar na poltrona lendo os últimos artigos que restavam para a prova. Depois, voltara à velha arquitetura da imagem, embora nem necessitasse de tantos artifícios, já que era uma mulher bonita.

Enxugara o rosto, sentindo a felpa suave da toalha, fechando os olhos com carinho. Seriam poucos minutos de encontro, antes de sair, mas o bastante para demonstrar o quanto o amava e tomaria a decisão que vinha há tanto tempo postergando.

Abrira os olhos e o que vira não era mais o seu rosto, mas o dele, Bruno, que a encarava de um jeito estranho. Assustou-se. Voltara-se inquieta.

Esperara que ele dissesse alguma coisa, que explicasse o que fazia ali, àquela hora. Não devia estar no escritório, despachando como fazia até o anoitecer? Silêncio.

Percebera que ele afastara-se do banheiro, baixando rápido os olhos, evitando alguma pergunta.

Seguira-o, mas não em silêncio. Era inevitável a pergunta, por mais estapafúrdia que fosse. A chaleira assobiava avisando da fervura da água. Ele atirara-se numa poltrona, deitara os braços estirados na cadeira e jogara a cabeça para atrás, olhando o teto.

Ela ficara na fronteira entre a cozinha e a sala de estar.

Decisão inevitável. Apagar o fogo. Da chaleira. De seu coração, que gritava por salvação. Uma dúvida confiscava-lhe a alma. Um temor absoluto, quase real. Correra até a cozinha. Voltara no salto, torcendo-o no piso frio. Fora ao seu encontro. Sentara ao seu lado. Pergunta fatal. Resposta inadequada.

— Precisei vir, só isso.

Não poderia ser apenas isso. Havia uma dor latente. Uma saudade que despertava, não sabia como, mas que era muito vívida e olhe, que ela não era dada a intuições. Apesar que dizem que as mulheres antecipam sempre o que de ruim pode lhes acontecer.

Convidara-o a tomar café, de um jeito até infantil, que o surpreendeu. Sorrira. Olhara também para o teto. Olhara para ele. Os braços fortes, veias azuis formando mapas de rios estranhos, espalhando-se nos braços da poltrona. O rosto moreno e viril. Insistira em abordá-lo, descobrir a verdade. Morrera alguém? Hã?

Bruno a encarara novamente. Olhos negros, apertados sob a sobrancelha espessa. Lábios grossos, entreabertos. Dentes muito alvos. Foi assim que levantara, num esforço. Ficara a sua frente.

Ela pequenina, defronte do gigante que se exaltava, sem respostas. Empurrara os óculos de aros pretos com o indicador, ajeitando-os nos olhos. Levantara-se também. Esperou que ele se manifestasse. Estava cansada.

Voltaria para a cozinha. Tomaria o seu café, estava faminta. Teria que analisar os últimos artigos para a prova e muito trabalho a fazer.

A mão forte a segurara pelo braço. Pedira que esperasse. A voz grave, desta vez, em falsete.

— Passei o dia preocupado. Só pensei em você, em nós dois.

Clara sorriu. Nada demais. Fazia isto todos os dias. Pensava nos dois, no futuro que os aguardava e hoje, especialmente, na decisão que tinha tomado.

Ele prosseguiu altivo:

— Só que descobri uma coisa: não dá mais, acabou pra gente.

Por um momento, Clara não quisera acreditar no sentido da frase. A bordoada fora forte. Coração aos saltos. Tentava segurar as lágrimas. Lentes embaçadas. Limpara os óculos com o dedo, alojando-os no nariz.

— Hoje você ia decidir, tava na cara. Mas era eu quem adiava. Nosso caso não tem futuro.

Não tem futuro? Como assim, não tem futuro? Se o futuro só existia com os dois juntos. Por quê?

— Depois deste tempo todo, estava mais do que na hora da gente ficar junto, legalizar a papelada, sei lá, casar como imaginamos...Você é uma mulher maravilhosa.

Poupe os elogios. A verdade tem que vir à tona, deve ser uma apenas. Sem mentiras. Sem ilusões. O que lhe vinha à mente, não era o que dizia, pois se o fizesse, talvez gritasse como qualquer mulher que se sentisse humilhada. Sim, talvez gritasse, esbravejasse, arrancasse os cabelos. Chorasse.

Chorar a apenas. Não queria demonstrar. Não queria fazer silêncios. Eles falavam por ela, e evitava suas revelações e sentimentos. Já eram transparentes demais. Queria os deles. Os motivos. As razões.

— O tempo foi passando e eu percebi que você tem uma visão diferente da vida, pelo menos do que eu penso, do que imaginei pra mim. – fizera uma pausa, respirara e prosseguira – Bem, Clara, você pensa em um construir uma família, partilhar aquele dia a dia de casalzinho, a velha rotina. Isso vai me matar. Eu não posso me privar da minha liberdade, de conviver com meus amigos, inclusive de ter outras mulheres. – pensou um pouco, sentiu-se um canalha, mas proposta é proposta – ao menos que você se contente com esta situação.

Todos os vasos, biscuits, estatuetas ou quaisquer quinquilharias voaram pela sala.

Adormecera a mulher madura, centrada, sensata e aflorara um ser estranho: violento, sedento de ódio, esmagado pela dor, soldado de guerra impune. Não o vira afastar-se, fazer a mala, deixar a chave.

Ficara não sabe quanto tempo inativa. Estirada na mesma poltrona em que ele se esparramara, vazia, sentindo nada.

Quando voltara ao banho planejado, nem sabia quanto tempo passara. Deixara-se molhar cada célula da pele, como se pudesse espantar todo sinal em que suas mãos se tocaram e ele a acariciou, ali mesmo, naquele ambiente tão íntimo e tão deles.

Não tomara o café. Nem lera os artigos. Nem fizera a prova. A capa no cabide perdia as últimas gotas de chuva.

Tal como agora. Reviver aqueles momentos era retomar toda a amargura que a atormentava desde aquele dia.

O telefone tocou, insistente. Uma luz vermelha piscava agora na planilha da tela do computador. Um navio aportava no porto. O vento frio zunia, as ondas negras lavavam o cais.

Clara respirou fundo. Lembrou da mãe que detestava aquele emprego, impingindo nele uma conotação masculina.

Vestiu a capa, desembaraçando-se do fone, afastando-se depressa em direção ao cais.

Os estivadores já aguardavam a ordem da descarga. Pontinhos negros, vestidos em seus trajes de abrigo, que ora brilhavam nas luzes fracas, reforçando vez que outra as lagoas formadas nas pedras irregulares. Surgiam de todos os lados.

Ela ligou o rádio na frequência do navio, conversou alguns minutos com o comandante, informando as normas de praxe, quase impossibilitada pelo assobio do vento e ingressou imediatamente na embarcação, atravessando a escotilha e descendo até o porão.

Ela inspecionou os containeres carregados de caixas de sapatos, anotou todas as quantias, conferiu a carga com a quantidade especificada nas planilhas, passeou entre os vários feixes e ia afastar-se para dar a ordem de desembarque das mercadorias, quando teve a impressão de ouvir um leve suspiro. Sentiu um arrepio.

Nunca se dera tempo de temer qualquer coisa, mas hoje, estava especialmente aflita. Atrás de um embaraçado de caixas, dois olhos a olhavam em súplica. Um homem na posição fetal, escondido entre a carga.

Clara estremeceu. Um clandestino.

Então decidiu chamar a guarda portuária, mas o homem mexeu-se, tentando levantar-se.

Ela temeu por sua vida.

Acionou o rádio rapidamente ao acesso da vigilância.

Entretanto, o esforço do homem foi inútil. Rolou no chão, desmantelando-se como um boneco de peças.

Ela perguntou-lhe em inglês, o nome, de onde viera. Ele balbuciava alguma coisa ininteligível. A cabeça pendida para trás. Os cabelos negros e a testa suada. Os olhos sempre fixos nela.

Clara então abaixou-se e tocou-lhe na testa. Ardia em febre.

Neste momento, dois guardas portuários chegaram como previsto.

Ela ouvindo-os, pelo alarde que faziam ao ingressar no porão, afastou-se depressa de onde estava, do lado do homem.

Lembrou-se de Dona Luísa, a mulher que ocultara um desertor de guerra e estremeceu.

Agiu num impulso e naquele momento, nem saberia explicar porque o tinha feito.

Talvez porque aqueles olhos lhe revelassem tanta infelicidade, quanto a que estava sentindo.

Dirigiu-se aos policiais, pedindo desculpas. Havia trocado a frequência, precisava se comunicar com o comandante e os chamara sem ter o cuidado necessário. Desculpou-se várias vezes, fingindo-se arrependida com o engano.

Os dois se olharam desconfiados. Um, que aparentemente era mais magro, insistiu em dar uma olhada nos containeres. Sempre é recomendável a diligência – concluiu.

O outro, entre um espirro e outro, enfocava uma outra possibilidade. Talvez Clara houvesse se assustado com algum rato e os tivesse chamado.

Ela afirmava, com veemência que não se tratava disso, muito pelo contrário, estava tranquila, como sempre. Havia sido um desagradável engano. Sentia-se uma incompetente.

O mais magro dava a palavra final, pois decidira que a esperariam na beira do cais.

Clara insistiu que era desnecessário, mesmo porque, estava chovendo torrencialmente, além da ventania constante. Ela havia reparado que um deles estava bastante resfriado. Melhor é que ficassem vigiando a saída dos tripulantes, que breve deixariam o porto para mergulharem nas águas da cidade – brincou.

Eles concordaram e se afastaram, sem antes porém, advertirem-na que chamassem em qualquer emergência.

Clara esperou que se afastassem e voltou ao lugar onde se encontrava o clandestino.

Sentiu uma ponta de culpa, afinal, agia contra as regras de sua profissão. Faltava com a ética, mas até que ponto estava errada, se havia tanta humanidade no que estava prestes a fazer?

O homem prosseguia na mesma posição. Por um instante, imaginou que tivesse morrido. E se isto ocorresse realmente, como ela explicaria não tê-lo encontrado entre aqueles containeres. Além disso, estava perdendo muito tempo.

Precisava pensar depressa e decidir o que faria com aquele homem. Aproximou-se, abaixando-se em seguida.

Ele abriu os olhos. Era o mesmo tom de súplica. Tentou levantá-lo. Pediu várias vezes que se esforçasse, para ficar em pé.

Ela pretendia ajudá-lo para tirá-lo dali.

Tudo o que falava, entretanto, não parecia significar nada para ele, a não o esforço para se levantar.

Ele gemeu, vacilou, mostrou-se fatigado e fraco.

Ela deu-lhe o braço. Mas como sairia dali, com aquela gente toda lá fora, esperando que abrissem em definitivo a escotilha para descarregar o frete.

O mais difícil era mantê-lo em pé. Ele fraquejava as pernas. E agora, Clara podia ver com clareza, que seus lábios estavam inchados e com ranhuras. Poderia ter alguma doença contagiosa. Agora, porém era tarde demais. Não podia recuar. Precisava sair do navio com aquele homem, de qualquer jeito, antes que os guardas voltassem, procurando por ela.

Era uma prerrogativa viver naquele clima de fim de mundo. Agradecia a São Pedro, pelo menos hoje.

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