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A lanterna

O poeta transmudou a expressão "porque hoje é sábado" em inúmeros sentidos.

Como uma lanterna iluminando fraca sob uma mão trêmula, na busca desesperada de algo perdido ou na iminência de acontecer.

É assim, iluminando palavras ou desfocando sentidos e certezas, que se constrói o grande mosaico da manipulação.

Quem sabe, somos lanternas pálidas para iluminar os focos imprecisos de nossos argumentos, quando nos inteiramos apenas de um lado da informação, do conteúdo ou da sinopse que julgamos como verdades absolutas.

Quantas vezes alimentamos a luz desfocada para centralizarmos na fogueira!

Uma afirmação modesta pode ser rica de conteúdo se iluminada no contexto certo.

Nos sábados, as luzes se encontram, se estabelecem e se recriam.

Nos sábados, o mundo para e as vozes emudecem.

Nos sábados a alegria é dever e a tristeza apenas fuga melancólica dos amantes.

Mas a vida real, por vezes perversa e obscura, nos leva a refletir apenas como lanternas frágeis à possibilidade do brilho.

O filósofo grego Diógenes procurava um homem que vivesse segundo a sua essência, com uma lanterna na mão.

Hoje os homens buscam lanternas que lhes deem sentido, seja em que grau de claridade os contemplem. No entanto, a verdade compartilhada segue apenas um flash, obstruindo os fatos comprovados.

Que venham os sábados e as segundas e que os homens busquem a si próprios para desvendar com profundidade suas verdades. Que a quimera seja apenas o símbolo de suas buscas. Jamais a certeza das respostas.

Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/lâmpada-de-querosene-luz-lâmpada-1453994/

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