Estranha obsessão (2011), (pode haver alguns "spoilers") em francês “Le femme du Vème” ou em inglês “ The woman in the fifth” é uma produção franco-polonesa, dirigida por Pawet Pawlikowski. Ethan Hawke e Kristin Scott Thomas formam o estranho par romântico na trama de mistério.
O protagonista é Tom Richs (Ethan Hawke), um escritor norte-americano que se muda para Paris, para se aproximar de sua filha. Já em Paris, depois de ser roubado, se hospeda em um hotel barato. Numa livraria, é convidado para uma festa, onde conhece uma viúva de um escritor húngaro (Kristin Scott Thomas), tradutora de livros, com a qual mantém um romance. Por outro lado, mantém um romance no hotel, com uma linda polonesa (Joanna Kulig, atriz polonesa). Por fim, é acusado de suspeito por um crime, pois seu vizinho de quarto é assassinado. Para livrar-se da acusação, tem como álibi o encontro com a viúva, em sua casa, porém, a polícia descobre que a mulher havia cometido suicídio em 1991. Mas toda esta trama não passa de cenário para a sua procura desesperada pela filha, quer encontrá-la, levá-la consigo, mas é impedido pela mulher.
É um filme que tem causado polêmicas, não tanto pela crítica especializada, pelo que depreendi com minhas leituras, mas no âmbito dos espectadores. Há comentários na web de todas as categorias, desde as mais abalizadas até as mais canhestras, com dificuldade de entendimento ou falta de um aprofundamento melhor na trama e nos personagens.
Claro que o filme nos deixa alguns hiatos que causam um certo estranhamento, o que nos faz perguntar, o que está acontecendo com o protagonista? Aquela mulher que ele considera amante, a viúva do escritor húngaro existe realmente? E a jovem polonesa do bar que está apaixonada, afinal, de quem se trata? Na realidade, existe a mulher do dono do hotel e bar ou uma criação da mente do escritor obsecado pela filha? Ou seria a própria filha em sua imaginação psicótica, já que ele a trata com tanto carinho que se aproxima de um afeto paternal.
Por outro lado, a jovem polonesa recebe uma carta no final do filme que diz “com amor, papai”. E aquela menina perdida no bosque, que ele faz um link com a história que contava à filha, quando estavam juntos e quando tentava alertá-la de certo modo, que era um homem perigoso e que deveria ficar somente com a sua parte boa? Quem era o escritor na Paris desnudada e fria que procura obsessivamente a filha, fugindo da polícia, acusado pela esposa, que o quer ver longe? Tudo objeções.
Um estranhamento que não nos permite admitir para nós mesmos que o protagonista é mau, que matou a filha, que abusou dela (a mãe no início do filme, não deixando-o entrar no apartamento, dispara com terrível segurança “você não é normal”), que a amante não existe, que tudo não passa de criação de sua mente deturpada e doente, que a festa em que participou com outros artistas e mentores intelectuais não existiu.
Um mundo paralelo em sua imaginação febril?
Ou a realidade triste de um homem acuado por seu próprio passado? Pois esta estranheza é que nos seduz e encanta. Este estranhamento é que o torna um filme além da média, que revela uma criação artística.
Um filme que nos deixa muitas perguntas, mas uma única resposta da qual não podemos fugir: a vulnerabilidade da condição humana.
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