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PÁSSARO INCAUTO NA JANELA - CAPÍTULO XVII

HOJE QUINTA-FEIRA 03/03/2016 SEGUE O NOSSO FOLHETIM RASGADO COM AS EMOÇÕES DO 17º CAPÍTULO

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Capítulo 17
Carlos ensaiou alguns passos na sala imensa, na qual as pessoas se acomodavam em volta de uma mesa de mogno, brilhante. Resvalou os sapatos por um segundo, no piso encerado, equilibrou-se, juntando as mãos e chamou a atenção do grupo que ocupava os lugares. Segurou o braço da irmã pela mão, conduzindo-a ao encontro de Carmem, que foi a primeira a levantar-se, aproximando-se com surpresa facilmente identificada. À Úrsula, custou-lhe reconhecê-la: os olhos pareciam mais abertos do que o habitual, as maçãs do rosto salientes e os lábios extremamente volumosos. O cabelo loiro, num penteado jovial, com fios despontados. _O que houve com você, minha irmã? _Comigo nada! Você é que continua igual, ou melhor, um pouco mais abalada. – responde balançando a cabeça repetidas vezes, como se para ratificar a observação, ao mesmo tempo em que se eximia da crítica. _Você acha que não tenho motivos? _Nunca concordei com este seu sofrimento contínuo. – suspira - Acho que a gente tem que experimentar novos ares da vida, novos sabores. Mas não vamos filosofar não é mesmo? – e dedicando um olhar rápido a Susana - Quem é essa sua amiguinha? _Esta é Susana, a jornalista que está fazendo a biografia de Jaime. _Ah. – dirige-se à Susana, sorrindo, afetuosa. Até pega-lhe a mão e fala quase em segredo. _Querida, você acha que o Jaime ainda inspira interesse nos dias de hoje? _Para a classe jornalística e para os leitores que acompanharam as suas crônicas, sim. Carlos interrompe o colóquio, convidando a irmã e a amiga a ocuparem as cadeiras reservadas a elas. Úrsula percebe que a sua localização é estratégica em relação à Roberta Célia, ficando bem defronte. Esta sorri, afetuosa, arrumando o lenço de seda branco, que lhe envolve o pescoço preso a um broche. Úrsula censura mentalmente o gosto duvidoso do acessório e resmunga. _Só falta ela colocar um camafeu dourado. – Cala-se, percebendo que alguns integrantes da mesa, voltam-se, curiosos. Ao lado da nora, um homem parece pouco à vontade à mesa. Ora descansa os braços sobre um notebook, ora guarda-o na pasta de couro. Suas mãos ansiosas destoam do olhar expressivo, calado, que agora pousa em Úrsula, como uma vaca no pasto. Um olhar turvo, parado, parvo. É totalmente calvo, o nariz pequeno e a boca um tanto feminina. Carlos insurge-se numa pequena observação, tentando promover um ambiente cordial. Sorrindo, pergunta: _Meninas, acho que não preciso apresentar a todos. Vocês já se conhecem, não é mesmo Úrsula? _Claro que conheço a Roberta Célia, Carlos. Por que ela está aqui? Ele sorri, desajeitado, mas conserta o estrago, como anfitrião cuidadoso que é. _Você sempre brincalhona, minha irmã. –e dirigindo-se ao grupo, olhinhos pequenos, argutos, sorriso estreito - Ela sempre foi assim, pessoal, tem uma língua ferina, mas bom coração. Mas, já que todos se conhecem, eu vou esclarecer a razão deste encontro. _Na verdade, não conheço a todos. Carmem, não me apresentou o rapagão que está ao seu lado. Carmem enrubesce e se desculpa em tom mais baixo, evitando falar no assunto. _Eu ainda não tive tempo, Úrsula. É meu atual namorado. _Namorado? Pensei que fosse o marido de sua filha. Carmem lança um olhar exasperado, quase aflito, com a atitude da irmã. Carlos, ao seu lado, imediatamente contorna a situação, batendo de leve os dedos em seu ombro, pedindo-lhe ao ouvido, que se acalme. O rapaz mostra-se solitário com Carmem, abraçando-a e beijando-lhe o rosto. Úrsula percebe que se trata de um jovem forte, tórax amplo, olhos miúdos escondidos num rosto imenso. O pescoço é largo e vermelho, com veias salientes. Tem a impressão que no lado esquerdo há uma pequena tatuagem, uma espécie de esfinge. Finge não notar que Roberta Célia a desafia, acenando a cabeça, em tom de censura. Susana, por sua vez, não levanta os olhos, examinando as próprias mãos. Por fim, Úrsula retoma a palavra, desculpando-se. _Desculpe, Carmem, fui um pouco grosseira com você, mas é que me surpreendeu o fato de você ter um namorado depois de tanto tempo. Carmem, recuperada, retifica a última expressão da irmã. _Não faz tanto tempo assim... _E depois, eu não tenho nada a ver com a sua vida. Carmem abre mais os olhos, incentivada. _Sabe, Úrsula, nós nos conhecemos em Toulouse. _E ele vendia o que? Mais uma vez, Carlos interrompe, antevendo uma tempestade anunciada. Antes porém, Roberta Célia, solícita, pergunta: _Desculpe, mas o senhor ainda não apresentou o seu amigo, aqui do meu lado. O homem calvo fica enrubescido, desconfortado com a atenção fora de hora. Todos instantaneamente pregam os olhos nele. _Você tem razão, minha sobrinha. – ele sempre a chamou assim – este é meu amigo confidencial e advogado, John Harrelson, que sempre me acompanha. – e espichando-se sobre a mesa, pega-lhe as mãos, afetuoso. O outro sorri, acanhado. Alguém certamente faria qualquer pergunta, mas Carlos retorna ao lugar, reerguendo rapidamente o corpo. _Bem, queridas irmãs e amigos, vamos iniciar a nossa reunião. _Eu pensei que aproveitaríamos a ... a passagem de Brian para nos reunirmos, depois de tanto tempo. Só isso. Mas pelo que pude perceber, é muito mais do que uma reunião. É um conclave para elegerem o papa. _Oh, Úrsula, você foi tão sensível, tão suave. – parece explodir em emoção - Se Brian tivesse ouvido esta frase, por certo aprovaria seu comportamento. _Não acredito nisso. Poucos concordam com o que eu falo e muito menos com meu comportamento. Mas não foi para nos encontrarmos, para colocarmos na mesa todos os nossos sonhos, nossas vivências? Não foi por isso que você nos reuniu, Carlos? Carlos faz um silêncio premeditado. Analisa detidamente cada uma das figuras e faz uma pequena descrição individual. Junta as mãos cuidadosamente sobre a mesa, como em oração. Quando fala, levemente sorri. _Bem, estamos juntos mais uma vez, nós os três, você Carmem a eterna companheira de minha jornada, que me apoiou todos estes anos, que dedicou o seu tempo a ouvir-me nos momentos difíceis, principalmente – funga, segura uma lágrima - no período em que Brian adoeceu e voltou para o Brasil, vivendo sozinho, distante de mim e de todos. _Mas ele não estava lá com você? _Não, Úrsula, somente no últimos dias, porque fiz todo o esforço para buscá-lo. Há dois anos, que ele não vivia mais comigo. _Mas então, não estou entendendo. _Pois é, minha irmã. Ele só voltou para morrer. Seu desejo era passar os últimos dias de sua vida no Brasil. E assim, aconteceu. Eu lhe fiz a vontade – e suspira, orgulhoso - está tendo um velório e um funeral célebres, de príncipe, como sempre sonhara. – vira o rosto comprido para a porta, como se visse a imagem de Brian, agradecido. Acena a cabeça, emocionado. _Sonhar com uma coisa destas! Tem cada maluco. Esforça-se numa tosse frouxa e prossegue, evitando a observação de Úrsula. _Mas complementando o que eu dizia, também você Úrsula, apesar da distância, sempre foi uma pessoa muito importante na minha vida. Nunca a esqueci, mesmo nos lugares mais distantes ou mais exóticos, sempre lembrava de você. Tivemos uma ligação muito estreita, você sabe. _Mas nunca veio me visitar, nunca voltou ao Brasil, ao contrário, se afastou, detestava o Jaime... _Não diga isso, eu amava o Jaime. – responde exagerado, os olhos pequenos muito abertos, a boca oblíqua e pensamentos atilados - Detestava apenas o seu modo de vida, aquela mania de padronizar a humanidade, de viver 24 horas como socialista, me irritava. O muro caiu, minha irmã, o socialismo não passava de uma quimera. _Principalmente pra você, capitalista ferrenho, vivendo nas barbas dos soberanos árabes. _Não seja injusta. Eu trabalhei para isso. _E esqueceu sua irmã, a morte de nosso pai, seu sobrinho quando morreu. _Você sabe que eu não tinha condições de voar para o Brasil, naquelas situações. Isto já foi devidamente esclarecido. Por favor, são águas passadas. _Sim, quando meu filho morreu, havia uma transação em petrodolar imperdível. Roberta Célia passa enfia os dedos no cabelo vermelho, revelando ainda mais o rosto, como para marcar presença. Afirma, categórica: _Eu lembro muito bem os motivos do tio Carlos não ter vindo ao enterro do Luis Afonso. Na conclusão, todos voltam-se assustados. Percebem que as duas estão no olho do furacão. E não é pra menos, considerando-se a imediata reação de Úrsula. _Cale a boca, Roberta Célia, por favor. Na verdade, você nem deveria estar aqui. O que sabe deste tal de Brian? Ela não se intimida. Enfrenta-a com arrogância, consciente de que está suficientemente informada, talvez mais do que precise. _E o que a senhora sabe? Pois deveria saber muito mais do que eu se não vivesse alienada no seu mundinho particular. _Carlos, se esta mulher continuar se dirigindo a mim, eu vou embora. – levanta-se, apoiando as mãos na mesa, como garras. Susana toca-lhe no braço, pedindo calma, mas é Carlos quem reage. _Por favor, Roberta, não piore as coisas. Sempre sonhei que vocês voltassem a ser amigas. _Voltar a ser o que jamais fomos. Você errou de alvo, Carlos. _Minha irmã. Vamos acalmar os ânimos, pelo menos, em respeito –e suspira, numa interrupção rápida - ao Brian. Um garçom se aproxima e serve café preto e chá aos convidados. Úrsula senta-se e comenta à Susana, baixinho: _Quando será o baile? Susana sorriu, limitando-se a ouvi-la. Em seguida, sussura alguma coisa à amiga e quando consegue uma brecha, lança um pedido, embora tema causar alguma polêmica. Enche-se de coragem e em meio a um rumor abafado, se dirige ao grupo: _Como todos sabem, estou trabalhando na biografia do jornalista Jaime di Piave, esposo de Dona Úrsula. Por essa razão, estou fazendo uma série de entrevistas e tudo que se refere a ele me interessa profundamente. Carlos pergunta com os olhos, impaciente, com um delicado maneio da cabeça, o que tudo isso tem a ver com a reunião. Ela então, conclui, decidida: _Bem, já que estou aqui, no meio de pessoas que tiveram um contato muito íntimo como o jornalista, eu gostaria, se não causar nenhum transtorno, de gravar tudo que se referisse a ele. Seria de grande valia profissional. Carlos não reprime o ar ofendido. Torce as mãos longas, como se desafiasse as próprias falanges, tal é a energia que despende no gesto. Desaprova, falseando a voz: _Esta é uma reunião de família, Susana. Carmem volta-se para o namorado, que não entende o que está acontecendo. Investiga a tudo com olhar parvo. Ela ainda o intima: _Eu acho um absurdo, o que você acha Romeu? Roberta Célia sorriu, conjeturando que já previa isso. A moça manejava com habilidade os assuntos de seu interesse. Não passava de uma usurpadora. Úrsula, despreocupada com as reações adversas ao tema, pergunta à Carmem se este era realmente o nome de seu namorado, o tal de Romeu. Esta concordou com um gesto. Carlos pediu silêncio, na algazarra que se criou. Cada um falava o que era de seu interesse, o que o deixava mais irritado. Com olhar grave, sentenciou: _Podemos fazer uma eleição democrática. Quem concorda que a jornalista Susana –tentava parecer solene - grave as nossas conversas, levante o braço, mas não se limite apenas a isso, esclareça o seu voto, por favor. Não se esqueçam que temos na sala, além de vocês, como já apresentei, o meu advogado e querido amigo que pode nos ajudar nesta celeuma. Romeu para espanto geral, foi o primeiro a falar. _Olha, eu não sou da família. _Por enquanto, amor. – Carmem deita a cabeça no amplo tórax, com carinho, incentivando-o a prosseguir. Úrsula pergunta-se o que aquela ave geneticamente modificada tem que opinar. Mas restringe-se aos pensamentos. _Como disse o amor aqui, eu por enquanto não sou da família. Mas, posso concordar, pelo simples motivo, que não vai sair daqui nada demais. Se a moça veio aqui com a intenção de fazer estudo, então tá, não custa nada, a gente ajudá, beleza? Susana respira fundo e esclarece. _Na verdade, eu vim acompanhando Dona Úrsula. Pensei nesta possibilidade, na medida em que comentaram fatos do passado. Como sou jornalista, é natural que fique antevendo os acontecimentos e neste caso, estou preparada. Trago sempre minhas ferramentas de trabalho. E tratando-se do nosso grande jornalista, qualquer observação, qualquer opinião assume extrema importância. _E você, Úrsula, concorda certamente. _Pra mim não tem problema. Desde que me eximam de falar no passado. O que vier, vem bem. _O que ela quis dizer, amor? _Deixa querido, não canse esta cabecinha com bobagens. Úrsula evita ouvir o diálogo insosso da irmã com o namorado, mas seu coração salta, quando a nora toma a palavra. _Eu não concordo, é obvio. Mas quero informar que não tenho nada contra Susana. Inclusive, tivemos um encontro muito interessante, no qual pedia a ajuda e tenho certeza que depois da reunião de hoje, ela vai voltar atrás. _Não responda minha filha, não fale nada. Deixe a megera chafurdar sozinha. Carlos informa-se sobre a opinião de Carmem, numa das últimas tentativas. Entretanto, sabe de antemão que ela apenas concordará com o namorado. _Olha, tudo o que Romeu disser pra mim é lei. Acho que ele foi bem claro. Pra mim, não tem problema nenhum. Em seguida, volta-se ao amigo, como refúgio final. Não gostaria de transformar o velório de Brian numa fonte de pesquisa, principalmente transformando o jornalista no protagonista do evento. _Então vamos à palavra do nosso advogado de plantão. O que pensa disso, Doutor John? John não movimenta um músculo da face. Quem o olhasse naquele momento, pensaria que nem respira. Mas, logo faz um gesto desajeitado, olhando para baixo, desconfiado. Sabe que os presentes dirigiram sua atenção para ele e por um instante, um breve instante, sente uma certa euforia que sufoca o mal-estar. Tem consigo, que não pode desapontá-los. De vez em quando, sonda o grupo, mas paira o olhar sobre as cabeças dos presentes, sem conseguir encará-los. Fala num português travado, embora bastante claro. Exerce o poder da palavra com calma. _Penso que a vida tem meandros que precisam ser discutidos, alinhavados, analisados, dissecados. Não se pode arriscar dizer um sim, quando as possibilidades apontam para um não, uma negativa imponente das diversidades advindas do destino. Mas por outro lado, é mais do que justo negar peremptoriamente qualquer ação que nos pareça ilegal, enfrentando acontecimentos que fogem do nosso controle. E por que não dizer, às vezes, de nossa alçada. Acontecimentos estes, que induzem à turba desenfreada a subverter uma nação. Carlos está confuso, apesar de impressionado com o discurso. Romeu indaga intrigado, no mesmo tom anterior, meio que pedindo a a anuência de Carmem, mas esta apenas produz muxoxos, como de hábito, mostrando desinteresse pelo assunto. _Mas então, quer dizer que o senhor concorda? _Sim e não. _Como doutor? Neste ponto, todos parecem se interessar. Úrsula observa atenta o homem a sua frente. Não podia evitar de sorrir, satisfeita. Susana escreve algumas expressões, sem muito interesse. Roberta Célia não desvia o rosto do advogado, embasbacada. Carmem deixou por um instante os agrados no namorado e tentava adivinhar a resposta. _Olhe bem, Carlos, eu prefiro ser voto vencido. Veja bem, falta somente você a votar. Mesmo que não concorde com a gravação da moça, não haverá empate, porque democraticamente, ela tem o direito de votar como qualquer um de nós. Faça as contas. Carlos suspira, dedicado. _Oh, como o senhor é inteligente. Um intelectual de verdade. Merece um champanhe. O advogado contesta, solene. _Não, não, nestas ocasiões, prefiro ficar sóbrio. Como eu disse, a vida é cheia de meandros incompreensíveis, tanto que às vezes estamos em alto mar e seguimos avançando, tranquilos, sem nos preocuparmos com o perigo que está prestes a assumir proporções inacreditáveis. E noutros momentos, estamos à beira da praia, e caímos num buraco, ficamos tão assustados que acabamos morrendo de susto. Não é interessante? _É brilhante! O senhor é um gênio. _Mas genialidades a parte, quer nos dizer o motivo de toda esta conversa? Carlos responde à irmã com austeridade, como se retomasse o controle do leme. _Bem, em primeiro lugar, foi decidido. Susana pode gravar. _E em segundo? _Em segundo, eu pretendo concluir o meu discurso inicial. _Está bem, pelo que recordo, você falou de Carmem, de mim. Que mais tem a dizer? Carlos enche os olhos dágua. Num suspiro cortado, após pesquisa rápida nos presente, afirma. _De Brian. Úrsula insiste, impaciente: _Quem era Brian, afinal? _Brian? Ah, o querido Brian, o petit Brian. Todos vocês conhecem. _Eu não! _Você tanto quanto os outros. De outra maneira, é claro, não com a intensidade do encontro, do diálogo, do olho no olho. Brian era uma pessoa admirá – e fixa os olhos no vazio, como se Brian estivesse ali, etéreo, observando-o do alto, examinando os presentes - jamais passava em branco em qualquer reunião, em qualquer conversa de amigos. Era um gentleman, um lorde. Mas você o conheceu muito bem. _Não diga bobagens, Carlos. _É por isso, que os reuni aqui, para falar de Brian, do homem magnífico que foi o amor de toda a minha vida. O homem com o qual Carmem desfrutou de momentos felizes nas viagens a Paris, Amsterdã, enfim, pela Europa, - e voltando-se para Romeu, emocionado - que o próprio Romeu conheceu, não é meu querido? _Sem dúvida. O cara era massa! Carlos ignora os comentários e prossegue no mesmo tom imponente. _Que o próprio doutor John conviveu, partilhou de sua companhia amiga – o advogado reconhece com um gesto significativo. Também parece enxugar uma breve lágrima, no canto do olho. Logo, dissimula. Não quer se mostrar frágil - que você, Roberta encontrou algumas vezes. _É verdade. Um homem fabuloso. Um ser humano e tanto! Úrsula morde os lábios de raiva, mas se mantém calada. Interessa-lhe saber onde vai dar aquele fio, em que nó vai se enredar. Susana afasta a mão de suas anotações, ao ouvir Carlos falar o seu nome. _Inclusive você, Susana. Por isso está aqui e tem o direito de saber quem é. Todos comentam esta última reflexão. Roberta, familiar, indaga ao advogado o motivo do comentário de Carlos. Este intervém um pouco desconfiado; não tem nada a declarar. Carmem, pela centésima vez, tenta explicar a Romeu quem era a acompanhante da irmã. Acabou irritada por ele a achar bonita. Úrsula exige uma explicação de Susana. Como pode ela conhecer o tal Brian, se nunca havia sequer ouvido falar sobre ele. Ela intrigada, não sabe o que dizer. Apenas, Pergunta, indecisa, no meio do turbilhão que envolve o ambiente. _Como assim? Eu nunca o vi, antes.

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