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O DOCE BORDADO AZUL - CAPÍTULO 12º

Todas as terças-feiras e quintas publicarei capítulos em sequência do romance "O doce bordado azul". A seguir o 12º capítulo.

Capítulo XII

A alma ferida de Lúcia

Lúcia sorvia o chá frio. Olhava para Irmã Carlota esperando o desfecho, mas em meio a tantos rodeios, sabia que a coisa estava sendo muito bem costurada e modo a proteger as amigas, principalmente salvar a pele de Irmã Dolores. Não se conteve e perguntou em tom confidencial: – afinal, o que há nesta carta, Irmã Carlota?

A freira suspirou breve, entrecortado. Fez um pequenos gesto com o dedo indicador, batendo-o na mesa, como se confirmasse os próprios pensamentos, olhando fixamente a mão sobre a mesa. Depois, puxou-a para perto do peito, e encarou Lúcia com certa frieza.

– Esta carta foi atribuída à Irmã Dolores, mas tememos que seja uma farsa.

Lúcia surpreendeu-se com aquela declaração, mas não disse nada. Precisava ouvir até o fim, para saber até que ponto estava envolvida. A freira prosseguiu determinada.

– De qualquer maneira, tenha sido escrita ou não por Irmã Dolores, é de somenos importância neste momento. O que nos interessa, é que de certa forma, veio a público, ou melhor, apenas entre vocês, eu espero.

Ela denotava um certo tom de ameaça, que incomodava Lúcia.

– A verdade é só uma. Madalena, na sua juventude, ainda muito jovem, inexperiente, de cabeça avoada, teve, vamos dizer assim, um flerte com um professor da escola. Um ato indecoroso, certamente, principalmente para o professor, pois ele era um homem adulto e ela, ainda uma criança! Pois bem, este professor fez-lhe certas confidências. É isso que você sabe, não?

Lúcia pretendia dizer-lhe que sabia muito mais do que ela pensava, e que na verdade, não fora apenas um flerte, mas um relacionamento bem ousado, mas achou por bem calar-se e concordar apenas. A freira, então, prosseguiu mais segura.

– Pois é, estas confidências diziam respeito à pobre Irmã Dolores...

– Que não era tão santa assim – resmungou Lúcia, sem se conter.

– O que disse?

– Nada, Irmã, apenas que Irmã Dolores era uma boa alma.

– A bem da verdade, teve os seus tropeços, mas quem poderá julgá-la e depois, isso aconteceu há tanto tempo.

– O que aconteceu?

A freira a faiscou com um olhar duro, sinistro.

– Você sabe, Lúcia, não me faça repetir.

– Eu não sei se o que...

E logo após as reticências de Lúcia, a freura levantou-se devagar, fingindo um monólogo, como se o pudesse fazer indefinidamente. De certo, temia o julgamento de Lúcia.

– Eu não tenho coragem de repetir. Só posso lhe dizer que se trata do tal professor. Ele namorou uma menina, quase uma adolescente. E também teve os seus interesses em Irmã Dolores.

– Não diga!

– Ela era uma senhora, você sabe, não era nenhuma menina, além disso, uma freira, o que torna a sua falta injustificável, mas ele, oh, meu Deus, ...fazia chantagens!

– Mas o que ele pretendia daquela doce mulher?

A irmã a olhava de soslaio, desconfiada. Mesmo assim, entrava no jogo de Lúcia, entregando o segredo numa bandeja, talvez acreditando que ela desconhecesse o tema principal. Ensaiou uns passos até a janela que dava para o imenso jardim, observou nas luzes difusas do final de tarde, algumas freiras fechando as portas das aulas, puxando cortinas e afastando-se rápidas, por entre os canteiros, voltando a suas celas. Como tudo representava paz, harmonia, enquanto ali dentro reinava a mais absoluta obscuridade. Sentia-se aflita, por isso. Voltou a sentar-se, mais pálida ainda, esforçando-se ao máximo para parecer lúcida e firme.

– Ele sabia do pior. Na verdade, nada havia acontecido entre Madalena e...é tão difícil falarmos assim de alguém que já morreu e principalmente nestes termos. Mas você sabe, havia um relacionamento muito forte entre as duas, era uma admiração mútua, uma necessidade de estarem juntas, um elo muito forte, quase espiritual.

“Espiritual?! – pensou com ironia. Lúcia, – “tenho minhas dúvidas!”

– Mas para aquele homem indecente, havia mais do que isso. Ele não considerava laços de amizade, de amor fraterno, maternal. Ele ameaçou Madalena, que não passava de uma menina e fez chantagem com Irmã Dolores.

– E do que ele a acusava?

– Ora por favor, Lucia, não me faça explicar!

– Mas ninguém admitia na época. Se é uma coisa tão explícita, como não enxergaram naquele tempo?

Ainda exaltada, a freira rebate os argumentos de Lúcia, agora com a certeza de que ela sabe muito mais do que revela.

– Porque não se admitia tal coisa, pelo amor de Deus! Como se ia admitir um relacionamento ...assim, da maneira de como ele se referia.

– Uma relação lésbica!

Irmã Carlota empalideceu. Sentia-se arrasada. Nunca imaginara ouvir aquela expressão, principalmente relacionada a uma pessoa tão querida na Instituição, como Irmã Dolores.

– Nós nunca acreditamos nisso. Aliás, jamais passou pela nossa mente um pensamento tão infame! Nem se imaginava semelhante ato tão abominável para uma freira da estirpe, do caráter de Irmã Dolores.

Lúcia concordou, mas no seu íntimo, dizia para si mesma: “esta freira era uma puta, isso é que ela era.” Entretanto sua conclusão certamente agradaria Irmã Carlota: – é verdade, Irmã. Aquele professor foi um canalha!

– Mas você acusou Madalena. Você a chantagiou!

Ao sentir-se acusada, Lúcia mostra-se ofendida. E a raiva contida, extrapola em turbilhão, como se abertas todas as comportas, a água jorrasse em fúria.

– E a senhora realmente acredita que eu faria qualquer coisa contra Madá? Principalmente, sabendo que ela tem uma família maravilhosa. Não destruiria o seu casamento. Até que pelo relacionamento com o professor, foi uma coisa de criança, bem vexaminoso para a época, diga-se de passagem, mas quanto à freira, seria terrível. E depois, imagine, o marido, os filhos descobrirem que a mãe pura, imaculada deles, não passa de uma sapatão!

A freira refutava indignada, mas mantendo uma postura prudente.

– Lúcia, por Deus, cale-se! Você está sendo maldosa e inconveniente.

– Desculpe, Irmã, eu é que lhe peço, por Deus, me perdoe. Não quis ofender ninguém, está longe de mim, qualquer gesto que cause alguma desavença ou sofrimento ao próximo. Sou uma pessoa boa. Só falei de uma maneira crua, verdadeira, para expor a situação como ela é. Mas não se preocupe, eu jamais faria mal a uma mosca.

Novamente viu o mosquito instalar-se na lente esquerda dos óculos da freira e parecia aos poucos ocupar completamente o espaço, tornando-se gigantesco, a ponto de ocultar o olho esquerdo. Não conseguia desviar o olhar, por isso, não a ouvia, nem entender o que dizia, tudo ficava confuso novamente. E começou a falar com os olhos fixos nos óculos da irmã, que parecia mais ocupada em suas próprias elucubrações.

––Na verdade, eu sempre me preocupei muito com irmã Dolores e nunca acreditei numa palavra do que aconteceu. Quando eu soube, eu passei uma noite toda rezando, ou melhor tomando café e rezando para ficar acordada, para poder pensar, colocar a ideias em ordem e pensar no que faria. Eu recebi os e-mails também, a carta da irmã e traduzi tudo, por isso descobri. O que não entendi até hoje é porque ela contou tudo aquilo.

A freira a interrompeu, irritada. Precisava chegar ao ponto que tinha planejado desde o início e Lúcia parecia ter engolido uma vitrola e não parava de falar. Tirou os óculos e assoprou, embaçando-os levemente, para depois, limpá-los com a ponta da blusa de algodão, sob o casaco cinza. Levantou a cabeça em direção a Lúcia e percebeu que ela se calara. Não a compreendia e também desistira de fazê-lo. O que precisava agora era destrinchar aquele assunto árduo, para conciliar as coisas e a harmonia voltasse a reinar no convento.

– Bem, como você sabe, o professor morreu. Alguns disseram que se suicidou, outros que foi assassinado, mas nada foi provado naquela época. Para nós, não há dúvidas que ele se matou. Também, não é um assunto que interesse à Instituição. Na carta, Irmã Dolores relata os acontecimentos de uma forma muito estranha, sente-se culpada e resolve, segundo ela contar a verdade. Desconfiamos que ela estava com problemas mentais. Não havia como sentir-se culpada, se fora uma vítima. Tudo isso que foi relatado aqui, ela o fez, dirigindo-se a vocês, pedindo que se encontrassem e lessem a carta. Mandou uma em russo para Bárbara e o fez assim, para todas, sem se preocupar em traduzir coisa nenhuma. Por isso, desconfio que alguém forjou estas cartas, alguém que sabia de toda a história.

– Mas ela afirma que tudo aquilo era verdade, até mesmo o relacionamento com ...a senhora sabe, afetivo, com Madalena?

– Não, claro que não. Diz que foi passível de uma traição por parte do professor e afirma que nunca teve qualquer interesse por ele, como falavam na época. E que os laços que mantinha com Madalena eram os da mais pura amizade fraternal. Mais do que isso, era um amor materno, de mãe para filha.

– E por que ela resolveu escrever tudo isso agora?

– Isso é o que queremos descobrir. Talvez tenha sido ameaçada. Talvez alguém que soubesse da história tenha lhe acusado, feito chantagens ou tudo não passe de uma carta forjada por alguém muito torpe que queira fazer alguma ameaça a todas nós, prejudicar o convento ou à pobre Madalena.

–E esta pessoa certamente queria que todas nós soubéssemos.

–Todas não. As outras três, porque você já sabia.

Desta vez, fez-se um silêncio absoluto. Lúcia percebia nas palavras da freira uma nítida acusação, por isso precisava ser rápida e responder no mesmo tom.

– Porém não sabia com esta riqueza de detalhes.

Outro silêncio. Menos demorado, pois Irmã Carlota parecia pesar as palavras, iniciar um interrogatório, para que a verdade viesse à tona. Bateu novamente com o dedo na mesa, algumas vezes, escorrendo-o, riscando na madeira, como se na pergunta, afirmasse uma certeza.

– Então me diga, como você sabia da história? Por que somente você sabia, Lucia? Há mais alguma coisa nesta lama toda que eu desconheça?

Lúcia estremeceu. Teve a impressão que o mosquito pousou novamente na lente esquerda dos óculos da freira, mas foi só por um instante. Passou a mão pelos seus próprios olhos, apertando-os e abrindo-os, limpando a visão. Então, inspirada, respondeu, devolvendo a pergunta.

– Não esqueça Irmã, que eu vivi neste colégio 24 horas da minha vida. Eu não saia daqui, era quase uma órfã.

Como num jogo, as respostas eram rápidas. Uma peça aqui, outra ali, um bate-rebate intenso e premeditado.

– Órfã era Bárbara.

– Sim, mas eu participava de tudo. Gostava de estar sempre no grupo, colaborando em todos os eventos do colégio. A minha vida se resumia nesta escola. Eu sempre fui pobre, Irmã. Uma menina humilde que a única diversão era a sua própria escola. E além disso, eu era muito religiosa. Seguia os passos das freiras, como quem segue Jesus.

– Não exagere Lúcia.

– É uma pena que a senhora desconfia do que digo. Se acreditasse um pouquinho, veria como sou parecida com vocês. Tão religiosa quanto. Tão apegada aos bons princípios, ao bem-estar do próximo, à penitência, ao fugir das tentações.

A freira evitava olhá-la daquela maneira aviltante em que a via. Não queria exceder-se, mas era impossível alguém ficar impassível frente ao comportamento fingido de Lúcia. Por este motivo, pediu que parasse, não vinha ao caso demonstrações de caráter. O que interessava no momento era saber como ela tinha conhecimento do assunto.

Lúcia estava mais tranquila com o desabafo. Respirou fundo e prosseguiu:

– Eu e Madalena éramos muito amigas, confidentes até. Um dia, se abriu comigo. Estava muito nervosa, não tinha a quem contar toda a pressão por que estava passando. Foi há muito tempo, na época dos acontecimentos.

– Ela se abriu com você ou você descobriu?

– Por que diz isso Irmã? O que quer insinuar?

– Lúcia, eu somente quero a verdade. Não quero acusar ninguém e para isso, é necessário que se esclareça sem nenhum subterfúgio, nenhuma fantasia. Não havia um diário de Madalena, que você se apoderou, certa vez?

Lúcia percebeu que não havia saída, o círculo se fechava aos poucos. A freira soubera muito bem munir-se de provas contra ela, para forjar uma cilada. Estava tudo muito claro e ela soubera como ninguém alicerçar-se com cada tijolo, para atingi-la de uma vez só, com a maior propriedade. Bastava uma pá de cal, pá de cimento e pronto! Estava ela perdida pra sempre! Irmã Carlota era realmente uma mulher muito esperta, embora se fizesse de frágil, temerosa do resultado dos acontecimentos. Então era necessário mudar a estratégia, utilizar outras armas, dar a última cartada. Por isso, sorriu abertamente, como nunca o fizera naquele encontro, demonstrando que somente agora recordava o acontecido.

– Ah, é verdade. O diário. Nós nos divertimos muito com esta história. Eu tomei a chave do armário de Madá. Ela tentou me pegar, lembro como se fosse hoje. Eu era rápida, esperta. Cheguei primeiro, tirei a sua pasta e puxei o diário. Instantaneamente comecei a ler. Fiquei apavorada com o que vi e perguntei se era verdade. Não acreditava que ela estava namorando o professor de educação física! Com o desenrolar dos acontecimentos, ela começou a me contar tudo, até mesmo ao que se referia à pobre Irmã Dolores. Mas o que eu não entendo é o porquê da freira escrever isso agora, com que intenção, para desmoralizar o convento, para acabar com a vida de Madalena. Sim, porque a nós não atinge nada.

Irmã Carlota prossegue o interrogatório friamente, aproveitando cada palavra proferida, apostando na dúvida que supostamente Lúcia demonstra.

– Você tem certeza de que não sabe o motivo?

– O que está querendo dizer, Irmã? A senhora acha que eu tenho alguma coisa a ver com isso?

Ela esquiva-se, batendo insistente na mesma tecla de que somente lhe interessa a verdade.

– Eu não acho nada, Lúcia. Eu jamais faria julgamentos antecipados a quem quer que seja. Só quero a verdade.

Lúcia novamente exaspera-se e por sua vez, questiona, acusadora: – e por que não perguntou isso a elas? À Bárbara, À Madalena. Elas também receberam a carta, os e-mails. Elas também sabiam de tudo. Por que a senhora me acusa? Por que quer protegê-las Irmã?

– Por favor, Lúcia acalme-se.

Inesperadamente, Lúcia desata num pranto desconsolado. Segura com força os cabelos, puxando-os com raiva, sentindo-se a mais miserável das criaturas. Chora em desalento, xingando a si própria, por sentir-se assim, tão frágil ante a opinião severa da freira.

– Só porque eu nunca fui brilhante, nunca galguei altos postos, nunca tive um nome ilustre, acham que eu teria a coragem de fazer um mal tão grande às pessoas que amo? Sempre amei Irmã Dolores, sempre a tratei com carinho, com afeição, sempre a confortei da melhor maneira que pude. E é assim que me tratam, como uma qualquer, uma desqualificada, uma mulher capaz de tudo.

– Por favor Lucia, você está exagerando, eu não disse que a julgaria.

– Mas julgou, Irmã, só porque eu sabia de tudo antecipadamente, só porque, num ato de desespero eu sugeri que contaria à família de Madalena esta história torpe, para conseguir um emprego, porque minha mãe teve um traumatismo craniano, estava à beira da morte, eu desempregada, vivemos de uma pensão irrisória. Eu me viro sozinha e por isso, tive este ato desafortunado, de fazer esta chantagem idiota. Mas eu jamais chegaria ao fim, jamais praticaria este ato abominável.

Irmã Carlota se desespera, enche uma xícara de chá, com a mão trêmula, estendendo-a a Lúcia, que a recusa, com arrogância. Aquela atitude inesperada a tira do controle. Não tem o hábito de conviver com pessoas de comportamento tão instável, tão inadequado ao seu ambiente.

Lúcia levanta-se uma, duas vezes, passeia pela sala e depois desbanca no sofá, calando-se completamente, como se exaurisse todos os argumentos em sua defesa. De cabeça baixa, mãos encolhidas uma na outra, sobre o colo e lágrimas contundentes. Vez que outra observa a irmã, examinando-lhe rapidamente a reação e volta à posição em que se encontra. Irmã Carlota, por sua vez, tenta acalmar-se e compreender o desequilíbrio de Lúcia. Aproximou-se dela e pousa delicada, a mão em seu ombro, pedindo desculpas.

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